segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Referendo suíço e súcio

por Ferreira Fernandes

Uma jovem morre em Estrasburgo, França. Ontem, um jornal lisboeta dá a notícia e, na sua caixa de comentários, uma leitora dá opinião: "Que pena! Condolências à família. Não acredito no suicídio!" Gostamos muito de dizer coisas. Mas era bom é que esse gosto, assumidamente irrelevante, não passasse do café e das caixas de comentários. Na Suíça, essa irrelevância subiu aos gabinetes ministeriais graças a um referendo. O Sr. Eleutério, lá de Friburgo, e a D. Aurélia, lá de Lucerna, reuniram 57% de bitaiteiros e decidiram que as mesquitas na Suíça não podem ter minaretes. E é assim que a Constituição suíça, que defende a liberdade religiosa, ganhou um aparte: sim, toda a liberdade religiosa, menos minaretes nas mesquitas. É o que dá referendar a torto e direito: torpedeia-se a democracia (esta é o povo a escolher o governo e o governo eleito a governar). Povo a governar não é democracia, é bitaitar, na melhor das hipóteses, e, na pior, são ignomínias à maneira suíça. Amanhã, se der aos suíços para referendar que os imigrantes portugueses têm de andar com um "P" na testa, é melhor não confiar no art. 7.º da Constituição Suíça. Este diz: "A dignidade humana deve ser respeitada e protegida." Mas nada me diz que 57% de imbecis não queiram fazer um acrescento.
(Diário de Notícias, Lisboa, 30 Nov. 2009)
Tive de transcrever, por variadas razões.

1 comentário:

  1. Achei esta crónica sobre "o bitatar" uma pequena pérola ou uma fábula da actualidade. Todos acham que tem direito a "bitatar" e a dizer, a torto e direito (porque é democrático (será?)) aquilo que lhe vai na alma, ou na fraca mioleira.

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