quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

HINO ÓRFICO À NOITE

Cantarei a criadora dos homens e deuses – cantarei a Noite.
Noite, fonte universal.
Ó forte divindade ardendo com as estrelas. Sol negro,
invadida pela paz e o tranquilo e múltiplo sono,
ó Felicidade e Encantamento, Rainha das vigílias, Mãe do sonho,
e Consoladora, onde as misérias repousam as campânulas de [sangue,
ó Embaladora, Cavaleira, Luz Negra, Amiga Geral,
ó Incompleta, alternadamente terrestre e celeste,
ó Arredondada no meio das forças tenebrosas,
leve afastando a luz da casa dos mortos e de novo te afastando tu [própria.
A terrível Fatalidade é a mãe de todas as coisas,
ó Noite Maravilhosa, Constelação Calma, Ternura Secreta do [Tempo,
escuta, ó Indulgente Antiga, a imploração terrena,
e aparece com teu rosto obscuro e lento no meio dos vivos [terrores do mundo.

Poema grego, versão de Herberto Hélder
In: Rosa do mundo. Lisboa: Assírio & Alvim, 2001, p. 429-430

5 comentários:

  1. Estas traduções de H.H.são sempre de respeito! E autênticas re-criações.

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  2. Traduzir poesia é sempre uma recriação, não? Ou devia ser...?
    Nestas coisa de tradução, lembro-me sempre do que se dizia da tradução que Blaise Cendrars fez d'A selva, de Ferreira de Castro - que era melhor que o original.
    M.

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  3. Nem sempre,do meu ponto de vista.
    Há por aí traduções que são autênticas monstruosidades...
    Por isso,e no caso de H.H.,escrevi
    re-criações. Os casos anterores são para mim destruições completas da obra original.E,porque,muitas vezes,põe como principal preocupação a rima nos poemas.
    Felizmente,temos e tivemos excelentes tradutores :Paulo Quintela,Jorge de Sena,Eugénio de Andrade,Frederico Lourenço...

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  4. H.H. chama à sua "tradução" uma "versão".
    Disse que traduzir poesia é uma recriação porque tem de se tentar transferir para português (a língua em questão) a sonoridade, etc., do poema original. Acho que a tradução não pode ser literal, embora também não se pode adulterar o poema. Não é para todos!
    M.

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  5. Gosto imenso das traduções dos três primeiros, principalemnte de Jorge de Sena. De Frederico Lourenço li no outro dia umas traduções de Teócrito, de que gostei.
    M.

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