Infelizmente, e no que à poesia diz respeito, alguns dos seus melhores poemas estão sepultados por entre essa densa floresta epopeica intitulada Invenção de Orfeu (nome escolhido por Murilo Mendes) e que foi prefaciada por João Gaspar Simões, na sua edição original.
Autor de uma obra desmesurada e desigual, de leitura, por vezes difícil e pesada, em que o barroco se mescla de misticismo, e os metros clássicos e temas se travestem de surrealismo, sobrevoada por um sopro bíblico, a voz de Jorge de Lima é, no entanto, incontornável para quem quiser conhecer as tonalidades variadas da melhor poesia brasileira.
Francis Bacon: "Three studies for a basis of a crucifixion", 1.ª versão (1944)
Transcreve-se, do poeta, um soneto de grande tensão expressiva e que foi publicado – como inédito, na altura – na revista portuguesa Árvore (vol.II - Primeiro fascículo):
Divina Voz, divino Sopro santo,
respiro-me em teu Voo, veloz Amor.
E sinto-me pequeno de poesia.
Vezes uns uivos, longe de ser canto
vestem-me os pêlos como Manto novo,
cordas revoando. Louvo-te Senhor.
Tenho em roda ao pescoço uma coleira
de cão, de pobre cão entre o meu povo.
Nem sei dizer se esse mudado verbo,
nem sei dizer se essa gaguês furiosa,
essa rosa de vento que é meu berro
se tornou na asfixia de Teu perro,
- canto com que louvar-Te, canto-chão,
nessa Tua divina ventania.
Post de Alberto Soares.
Esqeci-me de dizer que gosto de Bacon e desta crucificação!
ResponderEliminarGostei muito. Uma época em que, embora com a dimensão possível, Brasil e Portugal comunicavam mais? E sem necessidade de qualquer entendimento ortográfico...
ResponderEliminarTambém gostei.
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