segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
AMOR DE GOYA
Goya - La maja vestida (1800-1803); La maja desnuda (1800-1803)
Madrid, Museu do Prado
Qual das duas, a nua ou a vestida,
contém a sua alma? Seguramente
ambas percorreu poro a poro,
afundou-se no seu peito, na suave
cratera do ventre, na fenda
gomosa que nenhum filho lhe deu
e no bosquete, no acre perfume das axilas;
beijou em ambas os olhos tremendamente inexplicáveis,
o ponto equidistante dos lábios e sua delicada união,
tocou.lhes na anca, nessa parte
que nem a garupa do mais belo dos seus cavalos
excedeu alguma vez
e acariciou-lhes os joelhos,
implorando, sem palavras, morrer entre eles.
Se pudesse trocar de alma, a tua, Goya
esvolheria. Felicidade da pintura:
eis vivo, duplo, evidência cósmica, o que amaste
e tu dentro delas, sangue, carnação, a luz
distante, orgulhosa, dolorida de seus olhos.
António Osório
In: A luz fraterna. Lisboa: Assírio & Alvim, p. 188
Estive a folhear este livro, mas ainda não comprei. Gosto bastante da poesia de António Osório.
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