quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O Laço Branco


O Laço Branco (Das weisse Band) de Michael Haneke estreia amanhã nas nossas salas de cinema. A narrativa do filme decorre em 1913 e 1914, numa pequena aldeia em Mecklenburg, algures no Norte de Alemanha. À primeira vista, voltamos aos “bons velhos tempos”, na sua autenticidade reforçados pela opção de Haneke de realizar toda a película a preto e branco. A partir da perspectiva do jovem professor desta localidade, é retratada a vida austera dos principais protagonistas, entre eles o médico, o pastor protestante e sua família. As estruturas, “bem” definidas, transportam-nos para uma época em que a mulher se submete ao homem, e as crianças se sujeitam a uma educação de rigor e disciplina prussianos.

No entanto, a “pseudo”-nostalgia e inocência não correspondem à mensagem que Haneke costuma transmitir aos seus espectadores. E O Laço Branco não foge à regra: A aldeia pitoresca e seus habitantes estão a ser alvos de crimes misteriosos. À medida que a acção se desenvolve, confrontamo-nos com os suspeitos principais destes actos - um grupo de crianças, aparentemente inocentes…


O filme orgulha-se de ter conquistado vários prémios, tais como, a Palma de Ouro de Cannes 2009 e os European Film Awards nas categorias de melhor filme, melhor realizador e melhor argumento. Os 145 minutos constituem uma obra-prima em meu entender: dificilmente ficamos indiferentes ao espelho de uma sociedade em que deliberadamente prevalecem a ordem desmesurada, a tortura e a obediência incondicional, por vezes entendidas como expressão necessária do protestantismo vivido – e, por isso, “desculpáveis”. Das weisse Band é um contributo impressionante de Haneke - por vezes difícil de digerir nalgumas passagens -, ao explicar-nos uma das razões que conduziu à ascensão do Terceiro Reich.
Destacam-se as interpretações magníficas e convincentes dos jovens actores.

6 comentários:

  1. Vi a apresentação e deve ser duro de roer. Melhor: de digerir.

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  2. Irei ver. Parece-me interessante pelo contexto histórico que narra.
    :)

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  3. Sem querer pronunciar-me sobre um filme que não vi, pretendo, sobretudo, contribuir para um outro olhar sobre uma eventual associação mental: disciplina prussiana/protestantismo/Terceiro Reich.
    A tanto, autoriza-me a condição de agnóstica - atestada judicialmente no país de origem - assim como a vivência e educação mistas: católica/protestante.
    Com efeito, nunca entendi a definição, "algo lusa", do protestantismo como "pessimismo antropológico". Do mesmo modo, era difícil de aceitar a ignorância dos bávaros quando confundiam, perante um residente da cidade do arcebispo de Colónia, o prussiano com o protestante.
    A rigor, na 2ª metade do séc. XX, a Prússia já era apenas uma entidade histórica.
    Fica por fazer a contabilidade, que desconheço, dos colaboradores/ resistentes - protestantes/católicos durante o Terceiro Reich.
    Haverá alguma relação entre o facto de Michael Haneke ter nascido em Munique e a circunstância de optar pelo retrato de um ambiente de "disciplina prussiana de credo protestante" ?
    HMJ

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  4. A Baviera é fresca.
    Hei-de ir ver o filme. Com uns Alka- Seltzer, porque também já vi a apresentação.

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  5. Este está na lista há muito tempo. Gosto bastante do Haneke, um dos melhores realizadores europeus da actualidade.
    Se bem que isto da "obediência cega a ordens" tem nuances: ainda há dias vi um filme sobre Eichmann onde se mostrava claramente que ele desobedeceu a ordens de Himmler no sentido de poupar judeus ( já quando a derrota era certa, pois claro, e Himmler começava a ter pretensões de ser o sucessor de Hitler ), sendo Himmler o seu superior directo.

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  6. Cara HMJ,
    Obrigado por estas observações interessantíssimas que manifestam um profundo conhecimento devido à sua vivência por terras germânicas.
    De facto, a Prússia representa hoje meramente uma entidade histórica, e muitos alemães desconhecem o enquadramento da Prússia, quer sob ponto de vista geográfico, quer sob ponto de vista histórico. E também é facto que o território prussiano começa, no entender de alguns bávaros, a norte do Danúbio (pelo que grande parte da própria Baviera pertenceria à Prússia…). Enfim, esta “rivalidade” entre “prussianos” e bávaros terá hoje em dia apenas uma vertente cómica … (Mas gostei do comentário da Miss Tolstoi quanto à Baviera).

    Mais importante do que este eterno desentendimento, parece-me o seu comentário em relação à associação mental : disciplina prussiana/protestantismo/Terceiro Reich. Como dá a entender (e bem), existem muitos exemplos de personalidades “prussianas” conhecidas e anónimas que, não obstante a sua educação, se opuseram ao Terceiro Reich. A título de exemplo, refira-se Marlene Dietrich. E quanto à Igreja: sendo católico, não posso deixar de reconhecer que a pouca resistência oficial (não a de cristãos anónimos…) regista uma “contabilidade” mais favorável ao protestantismo.
    Obrigado pelo seu comentário.

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