quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Paul Celan - dois poemas e não só!

Depois do Luís lembrar Paul Celan (1920-1970), deixo a minha escolha.
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O poema, sendo como é uma forma de aparição da linguagem, é por isso de essência dialógica, o poema pode ser uma garrafa lançada ao mar, abandonada à esperança - decerto muitas vezes ténue - de poder um dia ser recolhida numa qualquer praia, talvez na praia do coração. Também neste sentido os poemas são um caminho: encaminham-se para um destino (…) para um lugar aberto, para um tu intocável…”
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Paul Celan, “texto de agradecimento do primeiro prémio recebido, em Bremen”, 1958, in Arte Poética - Meridiano e outros textos, Lisboa: Cotovia, 1996.
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“Só mãos verdadeiras escrevem poemas verdadeiros. Não vejo nenhuma diferença de princípio entre um aperto de mão e um poema”.
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Paul Celan, “Carta a Hans Benderm”, in Arte Poética - Meridiano e outros textos, Lisboa: Cotovia, 1996.
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Monumento ao Holocausto, Berlim

Aspen Tree

Aspen Tree, your leaves glance white into the dark.
My mother's hair was never white.
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Dandelion, so green is the Ukraine.
My yellow-haired mother did not come home.
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Rain cloud, above the well do you hover?
My quiet mother weeps for everyone.
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Round star, you wind the golden loop.
My mother's heart was ripped by lead.
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Oaken door, who lifted you off your hinges?
My gentle mother cannot return.
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Paul Celain
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A Noite das Palavras
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Noite das palavras - vedor no silêncio!
Um passo e outro, ainda,
um terceiro, cujo vestígio
a tua sombra não apaga:

a cicatriz do tempo
abre-se
e afoga a terra em sangue-
os dogues da noite das palavras, os dogues
atacam agora
bem dentro de ti:
celebram a mais selvagem sede,
a mais selvagem fome…
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Paul Celan, “Noite das Palavras”, in De Limiar em Limiar (Tradução de João Barrento e Y. K. Centeno)

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