terça-feira, 9 de março de 2010

Ainda a propósito de Maria Helena da Rocha Pereira


Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia, D.L. 2006

Andava à procura de uns vasos gregos - por uma razão que compreenderão dentro de umas semanas - e dei com este catálogo que desconhecia, que teve Maria Helena da Rocha Pereira como comissária científica.
A exposição, a que se refere o catálogo, reuniu, no Museu Nacional de Arqueologia, em 2007, um notável acervo de vasos gregos. A avaliar pelo magnífico catálogo - o qual termina com um poema de Keats, que a seguir transcrevo -. tenho pena de não ter visto esta mostra.

A UM VASO GREGO

Ó sempre inviolada noiva da quietude!
Ó filha adoptiva do Silêncio e do Tempo lento,
Rústica cantora, que assim sabes contar
Um conto flóreo com mais doçura do que os vossos versos:
Que legenda orlada de folhagem envolve a tua forma
De deidades ou mortais, ou de ambos,
No Tempe ou nos vales da Arcádia?
Que homens ou que deuses são estes? Que virgens relutantes?
Que louca perseguição? Que luta para escapar?
Que flautas e pandeiros? Que êxtase selvático?

Doces são melodias ouvidas, mas as não ouvidas
São inda mais doces; por isso, suaves flautas, continuai a tocar;
Não pra os ouvidos do corpo, mas, mais ternas,
Cantai para o espírito canções sem tom:
Belo efebo, debaixo das árvores, não podes deixar
De cantar, nem essas árvores perder a folhagem;
Amante ousado, nunca, nunca poderás beijar,
Mesmo com o alvo sedutoramente perto mas, não te lamentes,
Que ela não pode murchar; inda que não alcances a ventura,
Para sempre amarás e ela será bela!

Ah! felizes, felizes ramos! que não podeis perder
As vossas folhas, nem dizer nunca adeus à Primavera;
E tu, feliz aulete, infatigável,
Sempre a tocar canções para sempre novas;
Mais feliz amor! mais feliz, feliz amor!
Pra sempre ardente e para ser gozado ainda,
Sempre ofegante e para sempre jovem;
Muito acima do hálito de toda humana paixão
Que deixa o coração tão cheio de tristeza e saciedade,
A fronte febril e a língua ressequida.

Quem são estes que vão pra o sacrifício?
Para que verde altar, ó misterioso sacerdote,
Levas tu a vitela que vai mugindo os céus,
De flancos sedosos todos engrinaldados?
Que vilazinha à beira-rio ou junto ao mar,
Ou assente num monte c’uma acrópole pacífica,
Se esvaziou do seu povo nesta manhã piedosa?
E as tuas ruas, vilazinha, para sempre
Ficarão silenciosas; e nem viv’alma, pra contar
Porque ficaste deserta, pode jamais voltar.

Ó forma ática! Atitude bela! C’uma renda
Bordada de homens e de virgens de mármore,
Com ramos dos bosques e ervas que os pés calcaram;
Tu, forma silenciosa, intrigas e esgotas o nosso pensar
Como o faz a Eternidade: Fria Pastoral!
Quando a velhice tiver consumido esta geração,
Tu continuarás, no meio de outras dores
Que não as nossas, amiga do homem a quem dizes:
“Beleza é verdade, verdade é beleza!”, - e eis tudo
O que se sabe cá na terra, e tudo o que é preciso saber.

John Keats
Trad. Paulo Quintela

3 comentários:

  1. Gostei muito. E da tradução,também, da ode "On a Grecian Urn" feita por Paulo Quintela, que deconhecia. Obrigado.

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  2. Também gostei e vai ser-me útil.:)

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