quarta-feira, 3 de março de 2010

Jano, Ani e um repto

- moeda romana de Jano, aqui sem barba.

Respondendo ao repto do nosso JAD, lançado no seu recente comentário à peça por ele escolhida das que estão expostas na Obras de Referência dos Museus da Madeira, direi desde logo que nada me faz supor que se trate do deus etrusco Ani, mais ou menos contraparte de Jano ( ou Janus em latim ) no panteão etrusco. A menos que o nosso Jad tenha tido alguma informação suplementar e superveniente que ainda não tenha aqui partilhado e que o leve a concluir que há grandes probabilidades de se tratar de tal divindade mais obscura. Assim, continuo a pensar que é provável na verdade que se trate realmente do deus romano das passagens que ficou para sempre consagrado na nossa cultura por ter dado ao nome ao primeiro mês de cada ano.
Mas, e este é o ponto essencial que me levou a responder sob a forma de post, a verdade é que importa ter sempre presente o enorme sincretismo dos diversos panteões- De onde vem o Ani etrusco? De onde provém o Jano , o deus mais importante do panteão romano arcaico?- Quase de certeza, como acontece em tantos outros casos, são transposições de divindades ainda mais antigas, designadamente do Próximo Oriente onde tudo parece ter realmente começado.
Voltando às representações de Jano, que é o que mais nos interessa, parece ser certa uma coisa: existindo barba, estaremos quase de certeza absoluta perante uma representação do deus bifronte; faltando barba, podemos estar ou não- desde logo porque outras divindades foram do mesmo modo representadas, bem como imperadores que se fizeram acompanhar, desde logo nas moedas, por "ídolos" como Alexandre Magno. Obviamente, a inspiração mais ou menos remota para estes exemplos "de cara lavada" será plausivelmente a tradição Jano que vinha desde a República Romana.
Escolhi este exemplar numismático como ilustração precisamente porque estamos perante um Jano sem barba e cujos respectivos perfis podem suscitar, tal como na peça escolhida pelo JAD, dúvidas sobre o género de cada um dos figurados.

10 comentários:

  1. Quanto às duas cabeças colocadas na moeda não tenho dúvida que são, ou pretendem ser, masculinas dado que nada lhes tapa o cabelo. Como sabe só os homens podem ser representados em cabelo (a excepção é Maria Madalena). Quando a cabeça está tapada...
    J.

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  2. Desculpe, mas não consigo perceber a referência a Maria Madelena numa moeda antiga romana! Cada coisa na sua época- e os critérios iconográficos não escapam a este princípio.

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  3. Não quero dizer que não são dois perfis masculinos, mas admito que possa haver alguma, ainda que improvável, dúvida.

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  4. Desculpe, mas nunca escrevi que a cabeça de Madalena estaria numa moeda romana! Digo é que para haver uma representação feminina deve ter a cabeça coberta ou com um toucado (a única excepção é a representação de Madalena).
    Desculpe se não fui claro.
    J.

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  5. Luís este seu post é interessante!
    Gosto de assistir a discussões entre pessoas inteligentes. :)

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  6. Se calhar fui eu que não fui claro, mas explicito: os critérios de interpretação de uma imagem têm de ser os adequados à época em causa, pelo que a minha estranheza relativamente ao falar-se de Madalena quanto à moeda apresentada têm a ver com isso: a regra " cabeça coberta-mulher, cabeça descoberta-homem,excepção Madalena" é pertinente mas só quando falamos de uma época em que o Cristianismo é dominante, o que em Roma como se sabe só aconteceu tardiamente. Quantas imperatrizes romanas foram representadas de cabeça descoberta? Muitas.

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  7. Descoberta, mas com toucado! Não de cabelos escorridos.
    J.

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  8. Muitas com toucado, mas também muitas sem ele- há vários sítios na internet onde podemos vê-las e para eles remeto.

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