quarta-feira, 31 de março de 2010

A Paixão na Poesia Portuguesa III

Nota prévia as imagens são escolhidas seguindo o critério da contemporaneidade com o poeta escolhido.
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Jan Sanders van Hemessen (c. 1500 – c. 1566), Christ Mocked, Detail.
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Oil on panel. Musee de la Chartreuse, Douai, France

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André Falcão de Resende

«VÊ COM QUE MANSIDÃO...»

Vê com que mansidão, com que inocência
o Redentor do mundo se oferece
ao sumo sacrifício e obediência
até a morte tão crua, que padece;
e em tanta injúria tanta paciência,
que por seus homicidas não se esquece
e inimigos rogar, assim os amando,
tudo com alto amor bem rematando.

Amor lhe fez Céu que à terra desça;
amor, na terra ser numa Cruz subido;
amor, nos pés, no corpo, mãos, cabeça,
com cravos, lança, espinhos ser ferido;
amor, que com tormentos mil pareça
uma chaga ser, e por leproso havido;
amor, que assim amasse ao mundo tanto
que nele fique em carne e em corpo santo.

(Microcosmographya e drescripção do mundo pequeno que é o homem).

António Salvado, A Paixão de Cristo na Poesia Portuguesa, Lisboa: Polis, p.25.

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