sexta-feira, 30 de abril de 2010

Não Tenho Avesso - As Noites Afluentes (IV)

Julgo que muitos políticos deviam ler este poema.
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Detalhe da pintura de José Daniel Abrunheiro


NÃO TENHO AVESSO

Sou como sou, não tenho avesso,
nem outro rosto por detrás
deste que te olha do interior de mim.

A minha voz é o pensamento revelado
sem meandros nem sombras.
Quando falo estou em equação com os outros,
sou um número exacto, não a incógnita.

Quem me quiser basta olhar-me de frente,
dizer ao que vem com palavras de dentro
e a porta se abrirá como um abraço.

Mas se a porta ficar fechada,
volta apenas quando
os meus olhos não tropeçarem
na voz enganosa que me chama.

António Arnaut, As Noites Afluentes, Coimbra: Coimbra Editora, 2001, p.145

4 comentários:

  1. Caro Anónimo,
    Cada um pode ler o que quiser pode extrapolar para o amor, para a amizade e até para a política, esta última conhece a paixão do poder, a hipocrisia...etc.

    "A minha voz é o pensamento revelado
    sem meandros nem sombras.
    Quando falo estou em equação com os outros,
    sou um número exacto, não a incógnita.

    Quem me quiser basta olhar-me de frente,..."

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  2. Há aqui uma qualquer confusâo entre juntar "versos" e fazer um poema. São coisas bastante diferentes.

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  3. Permita-me que discorde. Quem fez este poema teve o sabor doce e amargo da política. Claro, não sei se para o poeta este era também um alvo, para além dos outros que referi.
    Na minha maneira de ver ou o que quero ver, é que este poema sobrepõe-se a qualquer um dos campos. :)

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