A Cristo na Cruz , de Eloy de Sá Sotto Maior, é para mim um dos poemas mais belos desta antologia. x
Francisco Zurbarán, Cristo na Cruz
x
Óleo sobre tela c. 1627-29, Museu de Belas Artes, Sevilha
ELÓI DE SÁ SOTTO MAIOR (século XVII)
A Cristo na Cruz
Que vos pode dar morte, Autor da vida,
sendo vós quem podeis dar vida e morte;
quem, por se dar a vida, me deu morte,
que troca a vida em morte, a morte em vida.
Tenha eu somente a morte e vós a vida,
que eu não mereço vida, nem vós morte:
pois vender quero logo a vida à morte
pra que se compre com a morte a vida.
Se a minha vida sois e eu vossa morte;
como me dais comigo morte ou vida?
Porque na sua está a vida ou morte:
Viva, meu Deus, a morte e morra a vida,
se, para a vida se ganhar na morte,
haveis vós de perder na morte a vida.
(Jardim do Céu)
António Salvado, A Paixão de Cristo na Poesia Portuguesa, Lisboa: Polis, p.49
Sem comentários:
Enviar um comentário