domingo, 25 de abril de 2010

Um cravo …pensamentos dispersos.



Na procura de respostas para uma identidade de Portugal encontrei estes dois textos retirados do livro Portugal Identidade e Diferença.

“Uma das cousas de que se devem acusar e fazer grande escrúpulo os ministros, é dos pecados do tempo. Porque fizeram no mês que vem o que se havia de fazer no passado; porque fizeram amanhã o que se havia de fazer hoje; porque fizeram depois o que se havia de fazer agora; porque fizeram logo, o que se havia de fazer já. Tão delicadas como isto hão-de ser as consciências dos que governam, em matérias de momento. O ministro que não faz grande escrúpulo de momentos não anda em bom estado: a fazenda pode-se restituir; a fama, ainda que mal, também se restitui, o tempo não tem restituição alguma”.
Padre António Vieira, Sermão da Primeira Dominga do Advento 1650

“Desde os relatos da Guerra do Peloponeso ou da história da república romana, encontramos exemplos de desalento, de descrença e de descrédito da política. E como foi possível superar esses tempos? Com ideias e com sobressalto cívico”.
Guilherme d’ Oliveira Martins

Guilherme d’ Oliveira Martins, Portugal Identidade e Diferença, Aventuras da Memória, Lisboa: Gradiva, 2007 (2ª edição) p. 11 e 114

Será possível superar o descrédito da República quando as suas palavras de ordem como: liberdade, igualdade e fraternidade estão gastas?
Em tempos de dupla comemoração: centenário da República/25 de Abril as guerras são as mesmas, os problemas são os mesmos, a corrupção continua, a soberania popular é esquecida e regulada por uma "oligarquia" cujo interesse é o poder.
Quero, no entanto, crer que ainda há esperança… o cravo solitário é o desejo “utópico” que um dia as três palavras de ordem imperem não só no papel mas fora dele onde é verdadeiramente importante.

3 comentários:

  1. Desculpe, Ana, mas não acho as três palavras nada gastas.
    As guerras são as mesmas? As pessoas já se esqueceram como era o país - "o Portugal em diminuitivo" - de antes do 25 de Abril. Como o país se desenvolveu.
    Como se comia e vivia na província, antes do 25 de Abril? Quanto tempo se demorava de Lisboa a Bragança? Quantas pessoas andavam na Universidade?
    Obviamente que não acho que o país esteja uma maravilha, mas não suporto este discurso!
    E o português é, no seu dia a dia, muito honesto, não é? Quando está a ver como não há-de pagar o transporte público, a multa, fugir aos impostos, etc.

    ResponderEliminar
  2. MR,
    Consciente de todas as mais-valias da liberdade e deste dia tão importante na vida de todos os portugueses e em casa, não me esqueço, porém, que a pobreza é de novo a ordem do dia, que a censura de uma forma subtil se imiscuiu nos media, que a justiça vive uns dias de amargura... e poderia enumerar mais mas fico por aqui.
    No dia em que devemos comemorar também devemos ser críticos, esta é a minha opinião. Embora, tendo vivido no tempo da outra Senhora, outros lutaram por mim porque era demasiado nova para o fazer.
    Hoje, para muitos o antes do 25 de Abril é uma quimera e é por isso que deve ser recordado para mostrar o que foi e o que se ganhou, não esquecendo o sentido crítico: "Com ideias e com sobressalto cívico”.

    ResponderEliminar