terça-feira, 11 de maio de 2010

Aproveitem para ler...



Lisboa: Estampa
«Só vim a ler este livro [O Milagre segundo Salomé], de que aliás tinha referências, quando, pela primeira vez depois do 25 de Abril, o Papa veio a Portugal. Não sei precisar o dia, mas acho que foi em 1980. Estava o Sá Carneiro no Governo e eu na oposição. Durante três dias, em Portugal, não se falou de mais nada a não ser no Papa (Papa de manhã, à tarde e à noite) e eu, então, estava em casa, não havia nada para fazer, e disse: “ É agora que vou ler o livro.” E durante aqueles três dias regalei-me com O Milagre segundo Salomé, um livro realmente extraordinário. É uma obra que dá o retrato duma época, que ninguém antes tinha dado. É justamente a época da agonia da 1.ª República, os inícios dos anos 20, com a ascensão dos grandes industriais. A figura do grande industrial – cujo modelo se imagina que terá sido o Alfredo da Silva e a CUF – e a figura do anarquista – que é o próprio Miguéis, o homem que está ligado à Seara Nova e que encontra a Salomé, uma figura altamente complexa e extraordinária de mulher, como há poucas na literatura portuguesa. Miguéis trata esta figura com grande humanidade. E, como pano de fundo, a alegoria do que foi o milagre de Fátima. É um panorama único da sociedade portuguesa e, enquanto houver interesse pelo que é ser português, como é Portugal e as contradições em que vivem os próprios portugueses, este livro tem de ser lido e relido.» (da Intervenção de Mário Soares no colóquio realizado sobre José Rodrigues Miguéis, em 2001. In: José Rodrigues Miguéis: Uma vida em papéis repartida. Lisboa: CML, 2002, p. 166)

Quem ainda não leu este livro faça como Mário Soares e aproveite os próximos dias.

E depois veja o filme:

3 comentários:

  1. ...como antídoto?
    Confesso que li o livro ainda mais tarde, talvez em 1985/6. A minha referência de Miguéis era (e é)"A Escola do Paraíso".Li-o com gosto, mas tinham-me dito tão bem dele que, embora tivesse gostado do "Milagre...", não o achei o melhor do Escritor. É o que faz o "assassinato por entusiasmo" de que fala Cioran...Mesmo assim, vou folheá-lo outra vez.
    Uma boa noite, MR.

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  2. Texto engraçado.
    Nunca é demais dizer como gosto deste livro e do Miguéis.

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  3. Encontro-me naquele estado de dizer: "Não li o livro, mas vi o filme" - e gostei do filme.

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