sexta-feira, 4 de junho de 2010

Via Tasso, 145


«Quando a porta foi aberta, eu já estava pronto: como pode estar pronto um caco que não tem força física para se manter em pé, senão apoiando-se na parede. Deixei para trás das costas a cela de segregação onde tinha ficado fechado durante um mês inteiro em condições desumanas, sem ar, sem nada sobre o que dormir, frequentemente sem luz [...]. Observei os homens que me rodeavam [..] iluminados por uma lâmpada, os seus vultos pareciam-me cadavéricos, muitos horrivelmente inchados e tumefactos [...] as pernas e o tórax faziam-me enlouquecer de dor e tive de me sentar no chão. Não conseguia mexer os maxilares e um olho estava tão inchado que não conseguia ver [...] eram 5 da manhã do dia 4 [de Junho, o dia da chegada dos Aliados], tentei deitar-me no chão mas o ribombar do canhão estava demasiado próximo para que se pudesse aguentar com a cabeça no pavimento. O palazzo parecia tremer nos alicerces. Tanto pelo cansaço como pela dor, que me tinham derrubado, adormeci ou perdi os sentidos. Acordei de sobressalto: lá fora gritavam, alguém escancarou a porta, fui arrastado por alguns companheiros pelas escadas [...] de repente dei por mim num mar azul e respirei o ar da manhã: avistei alguns alemães que se arrastavam dispersos com as caras brancas de pó, depois desmaiei.» (Arrigo Paladini - Via Tasso, cit. in Corrado Augias - Os segredos de Roma. Lisboa: Cavalo de Ferro, p. 247)

Arrigo Paladini estava preso no palazzo da Via Tasso, onde se encontrava instalado o comando da Gestapo. Hoje o edifício está trnsformado em apartamentos, excepto dois andares nos quais se encontra o Museu Histórico da Libertação de Roma: http://www.viatasso.eu

3 comentários:

  1. Comovente evocação!, que eu desconhecia.

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  2. Este livro de Corrado Augias sobre Roma é magnífico. Voltei a lê-lo há dois meses - é grossinho.
    Mas não sei se irei ver este Museu.
    Já em tempos, 'falei' do livro dele sobre Nova Iorque.

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