quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Canção de alta noite




Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.

Acaba-se a última porta,
o resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.

Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.

Andar... - enquanto consente
Deus que seja a noite andada.

Porque um poeta, indiferente,
anda por andar - somente.
Não necessita de nada.

Cecília Meireles

Para APS que há tempos colocou no ARPOSE dois versos desta poesia. Hoje encontrei o poema em Poesia sempre II, uma antologia organizada por Sophia de Mello Breyner Andresen.

2 comentários:

  1. A Cecíla Meireles nunca me deixa indiferente e as releituras são-me sempre gratas. Obrigado, MR.
    Amanhã levo o "Pegões"...

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