«A mentalidade dos anos da minha adolescência era a de uma aceitação resignada da pobreza do país, que quase roçava o masoquismo. Recordo a letra cantada pela então célebre Milu (célebre não por cantar bem mas por ser menos feia que a generalidade do que se via à nossa volta), no filme Costa do Castelo, em que a vampe, depois de ter saído de uma casa de gente orgulhosa, rica e "bem", trauteava: "Que saudades que eu já tinha da minha alegre casinha tão modesta como eu!" E continuava: "O meu quarto lembra um ninho e o seu tecto é tão baixinho" que a impedia de nele entrar de pé a levava a pedir humildemente: "Senhor Tecto, por favor deixe-me entrar." Haverá melhor prova do mau gosto pequeno-burguês que era verdadeiramente cultivado pela "situação", pelo regime, e que, um pouco melhorado, ainda hoje mentalmente vigora?»
Lembrei-me da resposta que Salazar deu a um jornalista inglês que, depois de ter dado uma vota pelo país, o foi entrevistar. Quando o jornalista lhe perguntou por que se via tanta gente descalça pelo país ele respondeu-lhe qualquer coisa como: «- É um costume do povo português.» Era um costume porque não havia dinheiro para os sapatos. Nem sequer para as alpergatas, vulgo ténis.
António Pedro de Vasconcelos não está certamente de acordo com Rosado Fernandes quanto à depreciação que este faz de Milu. Há, pelo menos, um fã dela entre os prosimetronistas.
António Pedro de Vasconcelos não está certamente de acordo com Rosado Fernandes quanto à depreciação que este faz de Milu. Há, pelo menos, um fã dela entre os prosimetronistas.
Minha Casinha
Que saudades eu já tinha
da minha alegre casinha
tão modesta como eu.
Como é bom, meu Deus, morar
assim num primeiro andar
a contar vindo do céu.
O meu quarto lembra um ninho
e o seu tecto é tão baixinho
que eu, ao ir para me deitar,
abro a porta em tom discreto,
digo sempre: «Senhor tecto,
por favor deixe-me entrar.»
Tudo podem ter os nobres
ou os ricos de algum dia,
mas quase sempre o lar dos pobres
tem mais alegria.
De manhã salto da cama
e ao som dos pregões de Alfama
trato de me levantar,
porque o sol, meu namorado,
rompe as frestas no telhado
e a sorrir vem-me acordar.
Corro então toda ladina
na casa pequenina,
bem dizendo, eu sou cristão,
“deitar cedo e cedo erguer
dá saúde e faz crescer”
diz o povo e tem razão.
Tudo podem ter os nobres
ou os ricos de algum dia,
mas quase sempre o lar dos pobres
tem mais alegria.
Letra de Silva Tavares; música de António Melo
Que saudades eu já tinha
da minha alegre casinha
tão modesta como eu.
Como é bom, meu Deus, morar
assim num primeiro andar
a contar vindo do céu.
O meu quarto lembra um ninho
e o seu tecto é tão baixinho
que eu, ao ir para me deitar,
abro a porta em tom discreto,
digo sempre: «Senhor tecto,
por favor deixe-me entrar.»
Tudo podem ter os nobres
ou os ricos de algum dia,
mas quase sempre o lar dos pobres
tem mais alegria.
De manhã salto da cama
e ao som dos pregões de Alfama
trato de me levantar,
porque o sol, meu namorado,
rompe as frestas no telhado
e a sorrir vem-me acordar.
Corro então toda ladina
na casa pequenina,
bem dizendo, eu sou cristão,
“deitar cedo e cedo erguer
dá saúde e faz crescer”
diz o povo e tem razão.
Tudo podem ter os nobres
ou os ricos de algum dia,
mas quase sempre o lar dos pobres
tem mais alegria.
Letra de Silva Tavares; música de António Melo
Há um episódio grotesco, por causa desta menina modesta,entre o Santos Costa e, suponho,o Paulo Cunha (?).
ResponderEliminarO Paulo Cunha, certamente...
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