"Eis que neste sonho de fazer, de trazer à nossa posse um princípio criador, a arte, meu amigo, foi a grande descoberta do nosso tempo. Oh a arte! Que infinito caudal de vozes que a anunciem, a expliquem, de instrumentos que a violem, de sonhos que a recuperem em justificação, em invenção da grandeza! E na sua evidência imediata, na sua imediata eficácia, a arte é tão simples! Porque o que é difícil e complicado não é sentir a arte; mas explicar a obra, (...) . Toda a obra de arte é um fazer e como tal limitada até mesmo para o que a executa".
Évora, Dezembro de 1957.
Vergílio Ferreira, Carta ao Futuro, Lisboa: Quetzal, 2010, p. 81-82.
A Carta ao Futuro é um magnífico ensaio que viaja num tempo pautado pela procura da arte, da beleza, da vida como uma arte, da essência humana, do lugar dos deuses e dos homens mas, sobretudo, de uma intensa procura.
Vergílio Ferreira termina com a ideia de que a vida é "a vertigem da noite e a iluminação do dia."
Confesso-lhe, Ana, que não consigo entender o sentido do ensaio através deste excerto, nem tão pouco qual o objectivo (qual a mensagem) que Vergílio Ferreira pretendia passar. Desde logo não percebo por que razão a arte foi a grande descoberta do nosso tempo. Porquê do nosso tempo? E para quê explicar a obra?
ResponderEliminarAcho que vou ter de ler tudo...
Obrigada pela sua visita.
ResponderEliminarClaro que não, é apenas um excerto que apliquei a uma tela banal.
Dá para ter uma perspectiva parcelar. Neste caso, da exultação da arte como criação.(Pode-se generalizar para os vários domínios da arte)
Olhando para a tela podemos sentir o momento retratado, a beleza ou o horror. Explicá-la é mais complicado porque pode ter diversas abordagens. A tela/obra por isso mesmo ultrapassa o seu executante - é um fazer. A arte não é, a meu ver, redutora.
O ensaio é um belo texto de aparência simples.
Não quis transcrever tudo porque ficava um post muito grande.
"Assim a arte, meu amigo, não anula a nossa condição, mas precisamente esclarece-a, até à vertigem, diante do nosso desassossego."
p.82.
[espero não ter complicado]
Ah! De facto não consegui atingir a relação entre o texto e a tela... Admito, até, que não percebi sequer por que escolheu esta tela, precisamente por ser banal, nem, tão pouco, a razão para a ter colocado duas vezes (um com e outra sem moldura). Não me ajuda?
ResponderEliminarBom, vou tentar.
ResponderEliminara) Escolhi-a por ser banal e por ser simples - " na sua evidência imediata, na sua imediata eficácia, a arte é tão simples".
Apesar de simples não deixa de ser bonita, banal mas bonita.
b)O pintor pintou a tela num cavalete sem artifícios, a moldura pode ser um artifício.
c)O efeito lupa, aproximar o objecto. Não resultou muito, podia ter focado só uma parte do quadro, uma ameixa...
Por trás das ameixas há a história de quem as apanhou, a mesa, o prazer de saborear e o olhar do pintor que viu nelas beleza.
Apenas isto: fixei o olhar nesta tela sem razão para isso - um "fazer".
Boa noite!
Por trás pode existir também a loucura de tentar explicar o que é inexplicável.
ResponderEliminarObrigado, Ana. Julgo que o meu problema é olhar para o quadro e não sentir nada...
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