Natureza-morta com abóbora e outros frutos, em fundo negro.
Foto de Petr Kratochvil
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Doce de abóbora-menina
(Beira Litoral)
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Abóbora-menina - q.b.
Acúcar - q.b.
canela - q.b.
Nozes - q.b.
Limpa-se das pevides e da casca uma abóbora-menina de tamanho médio. A polpa da abóbora corta-se aos quadrados e pesa-se. Junta-se-lhe metade do peso em açúcar, um pouco de canela em pó e deixa-se assim ficar de um para o outro. No dia seguinte lrva-se ao lume e deixa-se cozinhar até ficar com a consistência de ovos-moles.
Durante a cozedura vai-se desfazendo a abóbora com a ajuda de uma colher de pau. Depois de pronto o doce junta-se-lhe miolo de nozes partido aos epdacinhos e um pouco mais de canela se for necessário e vaza-se em que se deseja servir. Serve-se frio e acompanhado de natas batidas.
M.A.M. - Cozinha do mundo português. Porto: Tavares Martins, imp. 1962, p. 626-627
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Lisboa : Bertrand, 1955
Aquilino dedica este livro, que tem o subtítulo de Polémica e crítica, a Jaime Cortesão:
«Dê-me licença, querido amigo, que lhe ofereça esta carrada de abóboras. Dou o que tenho. Faça de conta que lhe trago... o quê? os pomos de oiro das Hespérides.
«Abóboras?! Pois então! Como os bons e pobres cultivadores da minha serra, agora que chegou o meu Outono, sinto que é a altura de tirar as abóboras do campo e pô-las de barriga ao léu, o ar estupefacto, a inocência rósea, o esforoidal caprichoso em cima do telhado.
«As autênticas cucurbitáceas, enquanto estão na terra, por via de regra acaçapadas entre o milho, dir-se-ia têm por obrigação dormir. Dormem como as bolas de pedra em toda a parte em que as há, sobretudo nos adros das igrejas e portas dos fidalgos. Dormem e crescem. Crescem sem licença de Deus e todavia não são sôfregas no comer como as couves galegas e os calondros. E são generosas. Uma gota de orvalho convertem-nas em odres de ambrósia. Ambrósia aboboral, já se deixa ver, mas nem por isso a transubstanciação é menos notável. [...]
«Os telhados, quando se vão embora as andorinhas dos beirais, ficariam vazios e confusos sem a presença inefável. Depois delas o dilúvio. Entretanto, a sorrirem ao longe e ao perto, quedam ali, tal as almas dos santos padres no limbo, com seu ar inconsútil e bronco de eternidades à espera de quem? Do facalhão da dona de casa que as corte em talhadas para a sopa de feijão burro adubada a salpicão e orelha de cerdo, dessas gloriosas e peninsulares sopas que têm de urrar para ser genuínas? [...]
«Que debruçadas do alpendre exalam uma outonal melancolia, que dúvida! [...]»
Tenho pena de não poder transcrever todo a dedicatória de Aquilino a Cortesão. Mas quem tiver ficado com apetite, pegue no livrinho e leia-o.
Eu sou fã de Aquilino e destas Abóboras no telhado.
Parece-me muito interessante. Nunca li este livro.
ResponderEliminarObrigada e bom Domingo!
Bom domingo! E bom feriado!
ResponderEliminarA receita é uma maravilha... com tanto Q.B. só a faz quem sabe...
ResponderEliminarQ.B.
Ah!Gand'Aquilino!
ResponderEliminarE, outro dia, a HMJ e eu tivemos o gosto de ver um casebre, lá para as bandas da Lourinhã, aberto a meio devassando prateleiras e prateleiras coalhadas destas abóboras outonais.
Ora MR, haverá, na altura certa, bolinhos de jerimu, para si, especialmente, admiradora do A. Ribeiro.
ResponderEliminarÉ sempre com grande prazer que se lê este escritor. Só quem nunca o leu é que diz que não gosta. :-)))
ResponderEliminarSerá que há algum livro dele com "LER +" escarrapachado na capa? Sim, que estas escolhas são de truz...
Vou aproveitar para o reler, neste fim-de-semana prolongado que tem sido dedicado à música e à leitura.
ResponderEliminarO Anónimo Q.B. não leu a receita, senão via que os q.b. se transformam... :)
ResponderEliminarObrigada, HMJ! Vou ver o que são bolinhos jerimu, mas que já me estão a aguçar o apetite...
E se gostarem de doce de abóbora (pouco doce), feito de acordo com esta receita, o tacho está ao lume, e um frasco pode chegar até vós.
O meu fim-de-semana, Miss Tolstoi, tem sido dedicado à cozinha, ao cinema e ao convívio. Pouca leitura... Mas talvez hoje, se não houver melhor programa...
E - mais importante! - a passear. Vai ver onde, Miss Tosltoi.
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