(...) A imortalidade, em Arte, é difícil de prever. Régio e Nemésio nasceram em 1901, há cinquenta anos Régio era imensamente popular, Nemésio conhecido pelas suas conversas na televisão. Quem imaginava, na altura, que a poesia de Régio ia sumir-se num rufo e a de Nemésio se mantém sem uma prega, e cresce?
Eu penso: João Cabral de Melo Neto vai permanecer. E a seguir penso: quem sabe se não estou enganado? Os critérios de avaliação serão completamente diversos, os motivos que levam as pessoas a aderir a uma obra também, o movimento do gosto incessante. Bach levou cento e cinquenta anos esquecido até ser adoptado pelos românticos. Mas será isto importante, será isto realmente importante? Até que ponto todos os livros, de todos os autores, não formam um único , imenso livro, que principiou a ser escrito muito antes de nós e prosseguirá sem fim, interminável?
Perguntas, perguntas. No fundo não me interessam muito: o que eu desejaria era deixar, mais ou menos acabada, a minha casa de palavras, por definição para sempre incompleta. E que o leitor se sentisse justificado e feliz lá dentro, rodeado de vozes que afinal são as suas.
- António Lobo Antunes, na Visão.
O excerto de António Lobo Antunes é muito interessante e algo melancólico.
ResponderEliminar"A casa das palavras" vai ser sempre imortal.
Cada tempo tem os seus poetas, escritores, músicos, pintores, cientistas ou historiadores... como a obra fica, nunca morre!
Os "excessivamente modernos" acabam por ter (Régio)vida breve, e os "anacrónicos"( Nemésio)- talvez por mais autênticos- mais longevidade. Claro que Bach beneficiou da autoridade de Mendelssohn, para ser re-conhecido.
ResponderEliminarE o nosso tempo tem uma enorme obsessão pelos "novos valores"...
Mas também é verdade que 100 anos ajudam melhor a ver o trigo e o joio...
Algumas obras ficam, outras não. E outras são ainda redescobertas, como aconteceu (felizmente!) a Bach... e, principalmente, a nós.
ResponderEliminarSerá que os que trabalham afincadamente para a eternidade (na terra, que é dessa que estamos aqui a falar), a vão ter? Só o tempo o dirá...
Oh! Miss Tolstoi, isso é uma ilusão dos bem-aventurados!...
ResponderEliminarMas porque é que J Régio está esquecido? Longe disso. Popularidade é uma coisa; garantia de eternidade, outra. E Régio é claramente um escritor permanente. Eu prefiro-o a Nemésio; e não os distingo em ranking algum.
ResponderEliminarBom,meu caro Anónimo, e como diz o povo: se não fossem os gostos, o que seria do amarelo...
ResponderEliminarLonge da intenção de discutir gostos, já sentenças... Mas 100 anos depois será sempre diferente; e muitos demoraram bem mais a ser redescobertos.
ResponderEliminarMeu caro Anónimo:
ResponderEliminarSeria estulto, em comentário, explicar-lhe o que penso. Se, porventura, quiser ter a bondade, pachorra e vontade de o saber, poderá ler no Arpose: "Por mote alheio e em desafronta, Vitorino Nemésio". Cumprimentos.
APS