domingo, 3 de outubro de 2010

Um dia, com cem anos (1)

O protagonista
Logo que saía da repartição, visitava a mãe, cada vez mais abatida e triste, como um folhetim prestes a chegar ao fim, e regressava logo a casa preocupado com a data que se avizinhava. Naquela tarde, no Intendente, um tipo chegou-se ao pé dele e disse ao ouvido:
- Olhe que é hoje; tenha tudo preparado.

Ficou aturdido mas ainda perguntou:
- Como é que você sabe?

O outro fez-lhe, com um dedo na boca, sinal para que se calasse e aconselhou-o:
- Vá para casa e espere pelos primeiros sinais; adeus ó Aniceto.

O desconhecido abalou apressadamente e Moisés também acelerou o passo para chegar à porta de casa a deitar os botes pela boca fora; e só então parou, a reflectir:
- Mas se eu não sou Aniceto... Se não conheço aquele tipo... é capaz de ser engano...

Entrava nesse momento a senhora Júlia, a porteira:
- Boas tardes, senhor Moisés. Vá para casa vá, porque parece-me que é para hoje. A senhora tem passado muito mal...

«Então deve ser verdade. O homem era capaz de ser cá do prédio... É algum vizinho que não conheço!»

Galgou os degraus a correr...


(Logo mais, ou amanhã, esclareço quem escreveu este relato, de 4 de Outubro de 1910).

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