(...) Acontece que o inimigo potencial, aqui, são os mercados, o FMI, e outras entidades de que precisamos, precisamente para nos "salvar". Terrível impasse: os nossos inimigos são nossos "amigos". Haveria um outro inimigo interno que, na verdade, nos mina: nós próprios. Nós e a nossa complacência com a rede de clientelismo, cumplicidades, facilitismo. co-esperteza individual e de grupo, negligências e desperdícios imensos por incúria impune. Fazer de nós o inimigo a sacrificar, o bode expiatório? Não é isso, afinal, o que se pede ao Governo que sofre dos mesmos males? Não é daí que vem o seu "despesismo" incurável que contribui largamente para a crise e a sua irresolução? Desfazer aquelas redes seria desfechar o verdadeiro golpe que mudaria o País e as suas mentalidades. Será isso possível num povo cujo primeiro laço de união e prática desrealizante de cidadania consistem em queixar-se do "País"? Contra quem nos ergueríamos se nos escolhêssemos como vítimas-arriscar-nos-íamos a tornar-nos reais: segundo impasse. (...)
- Excerto do artigo A grande espera de José Gil, na Visão, que vale a muito a pena ler na íntegra.
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