A história ocorre entre 1860 e 1910, em pleno processo de unificação da Itália, conhecido pelo Risorgimento. O livro começa em Maio de 1860 com a frase «Nunc et in hora nostrae. Amen» “Agora e na hora da nossa morte Amém”, (p. 7 )* que anuncia a decadência da aristocracia italiana e a ascensão duma burguesia endinheirada e detentora de novos valores. De uma forma sumária, a história retrata a família de Fabrício Corbera, o Leopardo (brasão de família), príncipe de Salina (ilha a norte de Sicília) durante as convulsões políticas da unificação de Itália quando Garibaldi desembarca em Marsala.
Ao longo do romance Lampedusa descreve os costumes, a vida faustosa da aristocracia decadente, a beleza, a paixão, o cinismo político, a hipocrisia, a religiosidade, o envelhecimento e a morte.
Da beleza destaco em villa Salina a descrição dos frescos pintados que retratam os deuses do Olimpo em simbiose com a religiosidade católica conferida pela presença constante do Padre Pirrone que acompanhará toda a narrativa.
Palácio de Donnafugata
Donnafugata foi o local (estância de férias) para onde a família de Corbera se refugiou, após o desembarque de Garibaldi e é onde se desenrola o ponto fulcral do filme de Visconti. Apesar da história se passar no segundo quartel do século XIX e princípio do século XX, a abordagem é intemporal por causa do arquétipo psicológico e social das personagens.
Tancredo fora confiado ao tio após a morte dos pais, era proprietário da villa semi-arruinada dos Falconeri e acabou por encantar o príncipe que secretamente o preferia ao primogénito. Tancredo levava uma vida dissoluta, era rebelde e acabou por se aliar à revolução. Há uma frase proferida por Tancredo (e mais tarde dita pelo príncipe Fabrício) que sintetiza as novas mudanças: - “Se nós não estivermos lá, eles fazem uma república. Se queremos que tudo fique como está é preciso que tudo mude. Expliquei-me bem?” *(p. 29- 30).
Tancredo apaixona-se por Angélica, filha do burguês latifundiário Don Calogero Sedera. O casamento é combinado por D. Fabrício para assegurar, na mudança, a continuidade do mesmo padrão de vida da velha aristocracia.Tancredo personificado por Alain Delon assume um perfil apaixonado, ciumento, ambicioso, inteligente que sabe tirar partido da vida passando de guerrilheiro a partidário da política vigente. A valsa de Verdi dançada por Burt Lancaster e Cláudia Cardinale, sob o olhar ciumento de Alain Delon, realça a beleza cénica e a profundidade que Visconti conferiu aos seus filmes e às personagens que construiu.
Parco Museo Letterario del Gattopardo . Espaço onde se pode reviver as cenas de Visconti
Porque é que escolhi um personagem tipo camaleão que se adapta a todas as circunstâncias da vida?
A resposta está na classe de Alain Delon, na riqueza do personagem aparentemente linear e, finalmente, no perfil que adopta o político actual.
http://it.wikipedia.org/wiki/Il_Gattopardo_(film)
Bravo! ( leia-se em italiano :) )
ResponderEliminarTambém gostei muito. Deu-me vontade de rever o filme. E este dia triste até propicia.
ResponderEliminarLuís,
ResponderEliminarGrazie mille!:)
MLV,
Obrigada e um bom momento neste dia triste!:)
O Leopardo (até agora) é o filme da minha vida.
ResponderEliminarGosto do romance, mas o filme supera-o. Visconti também é o meu realizador preferido.
O que é um herói?
ResponderEliminarJá percebi que é o Alain Delon. Certo! :)
E é o camaleão, o "perfil que adopta o político actual"? :(
E trata-se de "Heróis da Literatura" ou do cinema?
ResponderEliminarDesculpe estas observações, mas estou confusa.
ResponderEliminarCara Miss Tolstoi,
ResponderEliminarOs heróis da literatura podem surgir do cinema, como foi o caso.
Visconti seguiu fielmente o romance de Lampedusa excepto no final, omitindo a morte do príncipe e a situação da família posterior à morte de D. Fabricio.
Heróis da Literatura, tema sugerido por MR, pareceu-me que estaria ligado ao cinema. Pelo menos foi essa a ponte que fiz.
É difícil escolher um herói, para mim foi mais fácil assim.
Finalmente, a pertinência do perfil político por causa da desmoralização da política actual pareceu-me um bom factor a considerar, bem como a permeabilidade do personagem de Lampedusa à realidade italiana ser um bom fio condutor para a minha escolha. :)
Miss Tostoi não coloquei este link porque ele alerta para a existência de fontes insuficientes.
ResponderEliminarEste texto foi produzido pelo que me ficou do livro e do filme que infelizmente ainda não arranjei.