O museu vazio
Depois de uma viagem tão maçadora ( as curvas da estrada deram-nos um nó à barriga ), chegámos ao museu e ele estava vazio. Pelo menos assim dizia a mulher que levava as couves e que foi buscar a chave do museu para nos mostrar.
Era verdade. Todas as peças tinham sido levadas para um armazém "da cidade", o museu ia fazer obras; mas as obras não havia maneira de começarem, isso está aí assim há um ror de anos, dizia a mulher. Abriu a porta e afastou-se para nos deixar entrar.
O museu precisava mesmo das obras. O vento entrava pelas fendas das paredes, rebentadas de humidade. O chão rangia e cedia aos passos. Os ratos fugiam no escuro.
Esquecida na última sala, só uma pequena tela a desfazer-se: um São Jerónimo a segurar uma caveira zelava pelo velho museu vazio.
- Pedro Eiras, na INÚTIL, nº2, 2010, p.27.
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