domingo, 23 de janeiro de 2011

Carta a Maria de Lourdes

Lisboa, 9 de Dezembro de 1959


Maria de Lourdes


Li hoje, no jornal, a triste notícia do falecimento de seu pai. Não me foi possível acompanhá-los no funeral, mas não quero deixar de lhe vir, e ao Augusto, manifestar, por este meio, toda a minha simpatia e amizade, em transe tão doloroso, enquanto o não faço pessoalmente.

Calculo como se deva sentir, neste momento: a morte de uma pessoa querida, para mais se ocorre inesperadamente - o que julgo ter sido o caso - é sempre acontecimento difícil de suportar, sejam embora grandes a nossa resignação e fé religiosa. Uma e outra nos podem ajudar a compreender e aceitar o facto como lei inalterável da vida: mas não nos restituem quem desejaríamos manter sempre a nosso lado.

A crença religiosa, que em si suponho ser forte, levá-la-á a encarar o desaparecimento de seu pai como uma simples ausência momentânea, e a aguardar a hora da reunião futura e eterna. Também eu me convenço, de dia para dia, que vida e morte não são mais do que aspectos transitórios de uma mesma realidade - realidade que nos escapa, por agora, mas que talvez tenhamos, um dia, possibilidade de compreender.

Creia, Maria de Lourdes, na sinceridade dos meus sentimentos e aceite, e o Augusto, um abraço amigo do

Oliveira Marques





A. H. de Oliveira Marques (1933-2007) faleceu a 23 de Janeiro.

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