A morte do cronista Carlos Castro já começou a fazer correr rios de tinta e não só na imprensa cor-de-rosa, como preconizava Luís Barata. A sua morte e o percurso, curto, do seu presumível assassino como modelo, vencedor de um concurso. Mais do que especular sobre as relações de ambos, em hipócritas assomos morais, será bom que se tirem conclusões sobre os produtos da nossa sociedade que tudo consome e se consome e que está a criar frustrados e pequenos monstros de vaidades e vacuidades. Não resisto a transcrever esta crónica de Ferreira Fernandes, no DN de hoje:
Às vezes, a fama chega. Mesmo!
A culpa, se calhar, é dos dicionários: "fama" e "sucesso" vêm antes de "trabalho". E é essa a ordem de factores que é apregoada pelas televisões. "Em directo da casa mais famosa do país...", e mostra-se gente que não sabe nada, que não viveu nada e que de sentimentos só conhece a versão lambisgóia. "És o ídolo de Portugal!", grita um imberbe para outro imberbe, num desses concursos de caça-talentos em que o protagonista nem entende, apesar de anunciado, o papel que lhe destinam: ser caçado. Na noite da apoteose, Portugal chama com valor acrescentado e faz do miúdo um famoso. Assim, num repente. Com a plateia de pé, os colegas fracassados aos abraços apertados (alguém tem de fracassar para servir de pedestal), os pais a chorar de orgulho. Famoso. No dia seguinte, já há clube de fãs. O Facebook explode de amigos. Millôr Fernandes poetou sobre isso: "Na tela/ Em cada programa/ Notoriedades da hora/ Desconhecidos de ontem/ Famosíssimos de agora." Famoso. Ainda sem saber de quê, nem se interessando porquê, mas já conhecendo as regras: agarrar-se aos holofotes e, sobretudo, a quem detém as luzes dos holofotes. Famoso. Os mais sortudos saberão em breve como a condição é efémera. Os mais infelizes descobrem-se, um dia, mesmo famosos: aparecem nas primeiras páginas dos jornais, até de Nova Iorque.
Quer a sua introdução, quer a crónica do DN, expressam bem a pobreza actual da televisão
ResponderEliminarApesar de eu concordar com o que o Ferreira Fernandes e o JMS dizem, acho que um assassinato num quarto de hotel em Nova Iorque é notícia, independentemente do móbil do crime. Ainda para mais, Carlos Castro não é nenhum desconhecido - era um homem desta nossa pobre "socialite".
ResponderEliminarQuanto à pobreza actual da televisão já nem falo.
Gostei do comentário que APS ontem escreveu no post do Luís Barata sobre este caso.
E eu que tinha prometido a mim mesma não escrever sobre isto.
Sublinho as palavras de Filipe!
ResponderEliminarComo escrevi noutro lugar, a morte de Carlos Castro era e é objectivamente um facto noticioso, gostasse-se ou não do falecido e do jornalismo por ele praticado. Agora, o que tem acontecido, designadamente nas redes sociais, é que me parece muito feio: aproveitar o facto para considerações claramente homofóbicas e até uma certa inveja por C.Castro estar em NY num hotel de luxo.
ResponderEliminarNão frequento as redes sociais.
ResponderEliminarO maior defeito dos portugueses é a inveja. E quando lhes cheira a dinheiro...
ResponderEliminarA terrível ironia é C.Castro ter dito, ao partir para esta estadia de 15 dias em NY, que ia em lua-de-mel...
ResponderEliminarLua-de-fel...
ResponderEliminarTalvez valesse a pena recentrar a agenda do Prosimetron. A exemplo da agenda das eleições presidenciais. Ambos têm pormenores sórdidos. Um de economia dita doméstica, outro, muito próprio da "Caras" e congéneres róseos do mais pobrezinho Portugal. Não gastem mais cera nesta metafísica barata...
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