O primeiro episódio picaresco que tenho de relatar antes que a memória se desvaneça, teve lugar em Múrcia. Na falta de dinheiro vivo, tive de levantar umas centenas de euros numa "caixa multibanco". Tudo notas de 50 euros, como é frequente nos países ricos e menos por cá... . Ao tentar pagar uma compra no Museo Ramon Gaya, primeiro sobressalto: um funcionário inspecciona a primeira nota de 50 e levanta dúvidas sobre a autenticidade da mesma. Imagine-se a minha perplexidade, bem como a dos demais prosimetronistas, mas logo protestei mostrando o talão de levantamento e demais notas. O funcionário cede, a compra é feita, mas a dúvida instala-se no meu espírito e com ela a sugestionabilidade: as notas começam a parecer-me realmente diferentes, no tacto e nos elementos visuais! Seguiu-se, obviamente, o comportamento mais previsível: despachá-las o mais rapidamente possível, o que foi feito com a prestimosa colaboração dos compagnons de route, mas com o receio de que efectivamente alguma delas pudesse ser falsa e os dissabores que se seguiriam.
O segundo episódio podia chamar-se O Engraxador do Alhambra, não tão interessante como os contos de Washington Irving, a que voltarei em breve, mas digno de registo. Eis o cenário: eu e M.R. ansiosos por levantar as entradas do Alhambra, pois que a visita tinha hora marcada, vemo-nos e desejamo-nos para aceder à entrada principal. Depois de alguns contratempos logísticos, somos ajudados por um engraxador que imediatamente discorreu sobre Figo, Ronaldo e afins ao conhecer a nossa nacionalidade, mas que depois de nos encaminhar insistia em engraxar-me os sapatos, já com a respectiva caixa no chão. À beira da impaciência, menti e disse que seria à saída do Alhambra, não sem antes lhe meter um euro nas mãos. Ficou a promessa.
Ainda em Granada, não me esquecerei tão depressa de um susto em plena Carrera del Darro. Quase uma da manhã, vontade de tomar um chá quentinho, e três prosimetronistas olham para a montra de uma casa de chá árabe. Como um relâmpago, salta de dentro do estabelecimento o respectivo proprietário, corpanzil de sultão e olhar alucinado que nos interpela. Tudo acabou, no entanto, em ameno diálogo, com o argelino, pois era esta a nacionalidade, a desfiar memórias
de uma visita a Portugal, especificamente ao Porto, e a falar-se de Madjer...
Singularíssima e amena leitura!
ResponderEliminarObrigado, LB.
Adorei!
ResponderEliminarass) «Señora Mayor»
Luís,
ResponderEliminarSão estas histórias que nos fazem sorrir e que acontecem sempre, com mais ou menos frequência!
:)