quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O Museu do Cairo


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«O Museu do Cairo é o edifício maior e mais bonito desta capital. Em nenhum da Europa os arquitectos se preocuparam tanto com a comodidade dos vistantes e com as boas condições para a ventilação, como neste quasi recente. Apesar de conter tantos cadaveres, tantos objectos que estiveram milhares de anos na escuridão dos túmulos, não se nota o mais leve cheiro. O ambiente interno é mais puro que o dos museus de pintura e escultura.
«Todavia, a elegante e higiénica alvura das suas escadarias e a arejada amplitude dos salões apenas se apreciamnos primeiros momentos, ao entrar-se no museu.
«Em seguida, assalta-nos o passado, envolve-nos o misterioso encanto deste país que resistiu a deixar-se conhecer no decurso de dois mil anos, e agora, repentinamente, em menos dum século, patenteia, com prontidão que pode chamar-se violenta, todos os segredos do seu passado. […]
«É neste museu que pode conhecer-se directamente a arte policroma dos egípcios. Junto do Nilo, nas ruínas de templos e pirâmides, perdura o esqueleto da sua civilização; aqui, debaixo do tecto, guardam-se-lhe os músculos, a carne, sobretudo a maravilhosa epiderme.
«Por toda a parte vemos ouro e cores. Até as estátuas de madeira ou de alabastro estão pintadas, com tão maravilhosa frescura de tintas que chega a fazer duvidar da sua remota origem. Quase todas as cabeças têm olhos de vidro, com uma rodela de ébano e metal imitando a pupila, dando-lhe fixidez enigmática e inquietadora. Parece que essas figuras com sessenta ou setenta séculos conservam ainda fragmentos que pode a maior parte da história humana presenciar.»
Vicente Blasco Ibáñez
In: A volta ao mundo. Lisboa: Livr. Peninsular Ed., 1931, vol. 3, p. 281-282

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