Já estava na hora de regressar esta coluna. Hoje, com fotos a p&b, uma das minhas praias preferidas: o Portinho da Arrábida.
Com excepção das três primeiras, todas as fotos, dos anos de 1950, são de António Passaporte (1901-1983).
Alta Serra deserta, donde vejo
As águas do Oceano duma banda,
E doutra já salgadas as do Tejo:
Aquela saudade que me manda
Lágrimas derramar em toda a parte,
Que fará nesta saudosa, e branda?
Daqui mais saudoso o sol se parte;
Daqui muito mais claro,
mais dourado,
Pelos montes,
nascendo, se reparte.
Aqui sôbolo mar dependurado
Um penedo sobre outro me ameaça
Das importunas ondas solapado.
Duvido poder ser que se desfaça
Com água clara, e branda a pedra dura
Com quem assim se beija, assim se abraça.
Mas ouço queixar dentro a Lapa escura,
Roídas as entranhas aparecem
Daquela rouca voz, que lá murmura.
Eis por cima da rocha áspera descem
Os troncos meio secos encurvados,
Eis sobem os que neles enverdecem.
Os olhos meus dali dependurados,
Pergunto ao mar, às plantas, aos penedos
Como, quando, por quem foram criados?
Respondem-me em segredo mil segredos,
Cujas primeiras letras vou cortando
Nos pés doutros mais verdes arvoredos.
Assim com cousas mudas conversando,
Com mais quietação delas aprendo
Que outras que há, ensinar querem falando.
Se pelejo, se grito, se contendo
Com armas, com razão, com argumentos,
Elas só com calar ficam vencendo.
Ferido de tamanhos sentimentos
Fico fora de mim, fico corrido
De ver sobre que fiz meus fundamentos.
Ali me chamo cego, ali perdido,
Ali por tantos nomes me nomeio,
Quantos por culpas tenho merecido.
Ali gemo, e suspiro, ali pranteio;
Ali geme, e suspira, ali pranteia
O monte, e vai de meus suspiros cheio.
Frei Agostinho da Cruz (1540-1619 - «Elegia II» (início)
Alta Serra deserta, donde vejo
As águas do Oceano duma banda,
E doutra já salgadas as do Tejo:
Aquela saudade que me manda
Lágrimas derramar em toda a parte,
Que fará nesta saudosa, e branda?
Daqui mais saudoso o sol se parte;
Daqui muito mais claro,
mais dourado,
Pelos montes,
nascendo, se reparte.
Aqui sôbolo mar dependurado
Um penedo sobre outro me ameaça
Das importunas ondas solapado.
Duvido poder ser que se desfaça
Com água clara, e branda a pedra dura
Com quem assim se beija, assim se abraça.
Mas ouço queixar dentro a Lapa escura,
Roídas as entranhas aparecem
Daquela rouca voz, que lá murmura.
Eis por cima da rocha áspera descem
Os troncos meio secos encurvados,
Eis sobem os que neles enverdecem.
Os olhos meus dali dependurados,
Pergunto ao mar, às plantas, aos penedos
Como, quando, por quem foram criados?
Respondem-me em segredo mil segredos,
Cujas primeiras letras vou cortando
Nos pés doutros mais verdes arvoredos.
Assim com cousas mudas conversando,
Com mais quietação delas aprendo
Que outras que há, ensinar querem falando.
Se pelejo, se grito, se contendo
Com armas, com razão, com argumentos,
Elas só com calar ficam vencendo.
Ferido de tamanhos sentimentos
Fico fora de mim, fico corrido
De ver sobre que fiz meus fundamentos.
Ali me chamo cego, ali perdido,
Ali por tantos nomes me nomeio,
Quantos por culpas tenho merecido.
Ali gemo, e suspiro, ali pranteio;
Ali geme, e suspira, ali pranteia
O monte, e vai de meus suspiros cheio.
Frei Agostinho da Cruz (1540-1619 - «Elegia II» (início)
O poema de Frei Agostinho da Cruz é muito bonito, foi bom vê-lo aqui.
ResponderEliminarAs fotografias são fantásticas, nunca conheci o Portinho da Arrábida com este aspecto. A praia é muito bonita mas sempre que lá fui estava cheia de gente e era difícil estacionar.
Almocei num restaurante cujo nome não me lembro, mas gostei do tempo que lá passei.
Bom dia!:)
Também já há tempos que não vou até lá. Gsotava de ir ao fim da tarde, pela fresca, e depois jantar num daqueles restaurantes em cima da praia.
ResponderEliminarMagnífico poste! Com rica iconografia retro. Uma pequena achega, na actualização: a pequena estalagem cujo restaurante, junto ao Forte, tinha uma vista soberba sobre o Atlântico, já não é dirigida pelo irmão de Sebastião da Gama. É apenas mais uma Casa do Gaiato.
ResponderEliminarObrigada.
ResponderEliminarEu sabia que o pai do Sebastião da Gama tinha tido uma estalagem na Serra da Arrábida.
Alguém muito próximo de mim ouviu, nessa estalagem, o Sebastião da Gama (numa voz monocórdica) recitar os seus poemas. Ninguém sabia quem ele era na altura: era o filho do estalajadeiro. :)