quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Lisboa

Há um poema de Tomas Transtroemer sobre Lisboa, traduzido em 21 poetas suecos, uma antologia organizada por Ana Hatherley e Vasco Graça Moura, e com tradução ainda de Almeida Faria, Casimiro de Brito e Teresa Salema (Lisboa: Vega, 1981). É dela que o transcrevo:

Anteiga cadeira do Limoeiro.
Antiga prisão do Aljube

Lisboa

No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas calçadas íngremes.
Havia lá duas cadeias. Uma era para ladrões.
Acenavam através das grades.
Gritavam que lhes tirassem o retrato.
«Mas aqui!», disse o condutor e riu à sucapa como se cortado ao meio,
«aqui estão políticos». Vi a fachada, a fachada, a fachada
e lá no cimo um homem à janela,
tinha um óculo e olhava para o mar.
Roupa branca no azul. Os muros quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa:
«será verdade ou só um sonho meu?»

Tomas Tranströmer
Trad. Vasco Graça Moura

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