quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

«Coração independente», como mote

Joana Vasconcelos

«Eu gosto tanto de ti que tenho vergonha de mim. Há todas as razões boas para eu não gostar de ti, menos a de eu não gostar, porque gosto. É fantástico a gente sentir o que não quer e ter um coração independente.»
Fernando Pessoa
(Apontamento escrito na dobra de um envelope, em data incerta.)

No rescaldo do dia de ontem e da visita à expo sobre Pessoa, que me deu uma vontade danada de o reler. Parece-me ser mesmo esta a maior virtualidade desta mostra: pôr pessoas que nunca o leram, ou o conhecem mal (quem o conhece bem?) a lê-lo.

Não me parece que Pessoa fosse muito dado ao Fado. Apesar disso, aqui fica a Amália


Estranha forma de vida

Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.

Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.

Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.

Eu não te acompanho mais:
pára, deixa de bater.
Se não sabes aonde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.

Boa noite!

4 comentários:

  1. Houve uma geminação "tangencial"..:-)
    Ora, então, muito boa noite!

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  2. Como é que eu não me lembrei de, no dia 14, colocar um coração em filigrana ( ao menos !...) .

    O Pessoa está está sempre ao lado da minha pessoa.
    Leio, releio...

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  3. Eu acho que Pessoa e Amália têm muito em comum.
    Adoro ler pessoa e adoro ouvir a Amália.
    E adorei este post.

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