"(...) O que mais me intriga e dói na nossa morte, como vemos na dos outros, é que nada se perturba com ela na vida normal do mundo. Mesmo que sejas uma personagem histórica, tudo entra de novo na rotina como se nem tivesses existido. O que mais podem fazer-te é tomar nota do acontecimento e recomeçar. Quando morre um teu amigo ou conhecido, a vida continua natural como se quem existisse para morrer fosses só tu. Porque tudo converge para ti, em quem tudo existe, e assim te inquieta a certeza de que o universo morrerá contigo. Mas não morre. Repara no que acontece com a morte dos outros e ficas a saber que o universo se está nas tintas para que morras ou não. E isso é que é incompreensível - morrer tudo com a tua morte e tudo ficar perfeitamente na mesma. Tudo isto tem significado para o teu presente. Mas recua duzentos anos e verás que nada disto tem já significado. "
Vergílio Ferreira, in 'Escrever'
O que dizer deste texto?
ResponderEliminarTenho uma tia/madrinha que me dizia: (eu nunca apreciei as premissas)
"Coitado de quem morre porque os que cá ficam depressa se esquecem".
Era algo assim. Todavia, tenho pensado nisto e tenho que olhar para o chão porque de facto é como as ondas que apagam a escrita.
O trecho que escolheu é pungente e belo, como tudo o que Vergílio Ferreira escreveu. Um beirão que partiu para lá da sua terra natal.
Bom dia!:)
O Universo está cá há biliões de anos...
ResponderEliminarEste trecho lembrou-me uma frase de Wittgenstein que fui procurar para a citar bem: «As fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu universo.»