sexta-feira, 27 de abril de 2012

Al Berto - Livro Antigo


Livro Antigo 

violetas secas entre páginas de livros onde em tempos anunciaram o amargor da noite e a humidade tremenda das insónias

o mar
o mar ao longe


debruça-se então para o interior do livro
lê qualquer coisa sobre o coração dos líquenes
ou deambula de sílaba em sílaba onde
os dedos se mancham de tinta e no cérebro
ergue-se uma planta de cinza noite adiante


fechou o livro ao amanhecer
era como se tivesse envelhecido séculos
com as violetas
fecha a persiana e adormece

Al Berto, O MedoLisboa: Assírio & Alvim, 5ª ed., 2005.


Missal Rico, Fl. II, 2º Domingo do Advento, Introito, Biblioteca Pública e Municipal do Porto,  imagem retirada da revista Oceanos, A Luz do Mundo, Iluminura Portuguesa Quinhentista, nº 26 Abril/Junho 1996, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. 
A fotografia da revista é de Laura Castro Caldas e Paulo Cintra

2 comentários:

  1. "violetas secas entre páginas de livros"...
    Foi assim que apareceu o trevo...
    O poema é bonito...uma entrega total ao livro, até ao amanhecer.
    A fotografia magnífica.
    Beijinhos

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  2. Cláudia,
    Obrigada, o trevo é para mim muito especial!
    As violetas também são especiais e livros antigos é paixão.

    Na iluminura são miosótis (como indica o artigo) mas são tão parecidos com violetas que resolvi colocar.
    Este número da revista Oceanos é de encher os olhos.
    Al Berto é um poeta que estimo muito.
    Beijinhos. :)

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