quarta-feira, 25 de julho de 2012

Em língua portuguesa (IV)

CANTATA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
A MUI LEAL E HERÓICA CIDADE DE SÃO SEBASTIÃO

IV/ O SÉCULO XIX
Levantámos a Cidade: de águas pantanosas nasceram jardins.
Tempo de Vice-Reis. O palácio, a estátua, a fonte, o chafariz...

Brancos, mamelucos, negros, todos juntos a Cidade construíram.
Nela os poetas cantaram, os mártires morreram.
Mas a cidade vivia!

(Lá vem a nau da Rainha
que venceu o temporal:
vêm príncipes, vêm princesas.
- a Côrte de Portugal)

Levantamos a Cidade: sobrados, museus, chácaras, carruagens...
Casamentos reais, festas, luminárias, mucamas e pagens.

(Ai, quem é que canta num sôpro tão manso?
É a negra embalando o menino branco.

Que barulho é êste, de música surda?
É o negro dançando pela noite escura...)

Levantamos a Cidade. Navios que trazem sábios e artistas.
Navios que partem com o Rei e a Côrte. E o Príncipe que fica.
Levantamos a Cidade. Hinos, modinhas, proclamações imperiais.
Cidade de S. Sebastião, Heróica e Mui Leal.

Os teatros que surgem. Os livros que se abrem. Cidade de ciências, de artes e ofícios.
Mil vozes  cantando missas, ladainhas, óperas e hinos...

Fogo de artifício. Máscaras. Carnavais. Inaugurações.
Levantamos a Cidade sôbre esperanças de independência e libertação...

Pianos, árias, sermões, orações cívicas, aerostatos.
Ruas e ruas novas, e as sinhàzinhas que se separam de seus escravos.

 (Pisei na pedra,
a pedra balanceou:
o mundo estava torto.
Princesa endireitou...)

(Quem canta com todo êsse contentamento?
É o negro qie já fico livre do cativeiro!)

"... LEVANTAMOS A CIDADE PARA SER A RAINHA DAS PROVÍNCIAS..."


Cecília Meireles, Obra Poética, Rio de Janeiro:Cia. José Aguilar Editôra, 1967 (2ª edição), p. 857-858.


O poema (inédito) de Cecília Meireles sobre o Rio de Janeiro está quase a chegar ao fim. Por ser longo optei por escrever por partes.

3 comentários:

  1. Tão bonito...
    A maneira magnífica como Cecília Meireles descreve o Rio de Janeiro. Mostra-nos uma cidade com muita vida, movimento, repleta de história, com muita cor, muita música...
    Existe encanto, beleza e fascínio nas suas palavras.
    Beijinhos.:)

    ResponderEliminar
  2. Cláudia,
    Não conhecia este longo poema.

    Gostei, não conheço o Rio de Janeiro mas talvez um dia... com certeza. :)
    O livro foi a Cláudia que mo deu a conhecer na Feira do Livro de Coimbra, Lembra-se?
    Beijinho. :)

    ResponderEliminar
  3. Claro que lembro.
    A Ana teve olho de lince...

    ResponderEliminar