Da esquerda para a direita: Rogério de Freitas, Álvaro Salema, Ferreira de Castro, Jorge Amado, Fernando Namora e Francisco Lyon de Castro, no Aeroporto de Lisboa, 1953.
«A morte de Álvaro Salema chega-me pelo telefone, repetida: primeiro Nuno [Lima de Carvalho], logo José Carlos [de Vasconcelos], por fim Celestino, solidários, tristíssimos, um telefonema atrás do outro.
«Ai, meu Deus!, exclamo quando Nuno me diz: desculpa chamar-te para má notícia. Salema morreu. Quem foi? - pergunta Zélia ao escutar meu lamento: a cada semana pelo menos um amigo vai-se embora, o vazio se torna maior.
«A partir de agora Portugal será menos ensolarado, menos alegre, menos fraterno. Perco o amigo português de toda a minha vida, o amigo perfeito, o de todos os instantes, aquele que tudo sabia e tudo podia entender. Os acontecimentos dos últimos anos, a crise da sociedade soviética deixavam-no enfermo, num silêncio doloroso, percebi que ia-se retirando da vida, sem alarde, na discrição com que vivera. Quando estivemos juntos em Agosto deste ano aparentava melhor saúde, estás ótimo, eu lhe disse, estou no fim, me respondeu. Senti que não voltaria a vê-lo, ainda bem que vim a Lisboa a tempo de encontrá-lo, de comer à mesa de Elisa, de com ele recordar Ferreira de Castro, Fernando Namora, nossos mortos. [...]
«O homem mais modesto, o mais tímido, o mais corajoso, o mais leal, o mais digno, Álvaro Salema. Em silêncio se retirou de cena, pouco antes do final da tragicomédia, personificava a decência, já não tinha lugar no palco.»
Jorge Amado - Navegação de cabotagem. 2.ª ed. Mem Martins: Europa-América, 1992, p. 47
Mem Martins: Europa-América, 1982
Hoje, dia em que passam 100 anos sobre o dia do nascimento de Jorge Amado, vou colocar alguns excertos do seu livro de memórias, Navegação de cabotagem. Este foi o primeiro.
Boa maneiro de o evocar. Obrigado.
ResponderEliminarFoi um prazer, por várias razões. :)
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