sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Richard Zenith ao JL

Foto Jorge Simão (Expresso)

«Quando sairá a sua biografia de Pessoa?
«A verdade é que a data prevista já passou. Estou a  escrevê-la em inglês para ser publicada por uma editora americana, a Norton. Depois haverá certamente uma edição portuguesa, mas ainda não está definida.

«Já a está a escrever há algum tempo. É assim tão complicado?
«[...] Agora, estou a dizer não a todas as propostas. Já fiz muita pesquisa. Uma parte importante é contar os seus passos e tempos, onde, quando e como viveu, entre Lisboa e Durban. Interessa também a sua vida imaginativa. Ele tem um riquíssimo universo interior. Com todos os seus heterónimos, podemos ver o seu mundo como um sistema solar. E além da heteronímia, há todos os seus interesses dentro da Literatura, os géneros em que escreve, mas também a sua incessante busca espiritual ou os interesses políticos. Há um fazer constante em Pessoa. Insatisfeito com a vida tal como ela é, está sempre a projetar-se noutras realidades. O seu amor por Ofélia, por exemplo, e talvez outros, vive-os num plano literário. Transmitir isso numa biografia é difícil. Escrever a sua vida é contar a história de um homem que não parava. Mas como descobrir o seu fio narrativo?

«De todas as edições de Pessoa, qual prefere?
«Livro do Desassossego foi muito estimulante, por ser como sempre digo um não livro. Pessoa não chegou a organizá-lo e era preciso fazê-lo. Não deixa de ser um trabalho criativo tentar chegar a uma ordem possível, coerente e literária, respeitando-o. Porque tenho sempre essa preocupação. Evidentemente, não podemos acabar o que ele não acabou e temos de conservar o que é fragmentário. Mas Pessoa jamais teria publicado textos cheios de notas, pouco legíveis. Isso pode tirar o gosto da leitura, porque entre tantas notas, a poesia já não se vê. Na edição da Assírio & Alvim sempre houve essa preocupação de rigor e também a ideia do prazer da leitura. Também gostei muito de fazer Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal. É que foi um trabalho de detetive, percorrendo todo o espólio. Não havia quase nada publicado desses textos e foi preciso também fazer uma pesquisa dos factos biográficos. Cada livro que publiquei teve o seu fascínio.»

Extrato de uma entrevista de Richard Zenith a Maria Leonor Nunes (JL, 26 dez. 2012, p. 7)

2 comentários:

  1. A biografia de uma pessoa é sempre um fascínio. Mas, para ser honesta, não pode haver nem amor nem ódio. E é preciso ser-se distante.

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  2. Pode ser que me desiluda, mas acredito nesta. O Zenith sabe muito sobre o assunto.

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