Um Feliz Ano Novo de 2013, que seja bem melhor do que o pintam, para todos os que escrevem e passam por estas páginas. Para o brinde virtual um belo espumante português, que me agrada particularmente pelo nome e pelo rótulo :). Tchim tchim!
Este cartão de Boas Festas chegou hoje a acompanhar um presente. É produção própria, da amiga que mo enviou, e foi o mais belo que recebi este ano. Obrigada!
«Eu tinha sido criado, desde miúdo, entre os barcos e as redes, durante dois ou três meses cada Verão. Para mim, aquilo era um mundo maior que o mundo das cidades, com aqueles homens ruivos, roucos, gigantescos, que pegavam naqueles rolos de madeira e naqueles remos pesadíssimos como se nada fosse... gritando juras, insultos, numa cantilena sem fim.
«A miséria era medonha, com as crianças raquíticas, comidas pelas moscas e pelas pulgas, os pais encharcados de aguardente, mas eu não a queria ver. Eles, os do mar, eram os gigantes, nós, a gente do interior, os anões. Como as Campanhas estavam a acabar no início dos anos 60, eu sentia que era preciso fazer qualquer coisa para os salvar; ou,pelo menos, erguer um monumento à sua glória.
«[...] Claro que, na atmosfera neorrealista da época, as pessoas viram o filme como um protesto contra a fome e o trabalho pesado. Mas o que eu tinha sobretudo era admiração por aqueles homens que, sem terem onde copiar, tinham inventado uma complexa forma de trabalho coletivo - reunindo centenas deles e sem grandes meios materiais -, capaz de de lutar contra a fúria do mar numa costa sem defesa.
«[..] O mar andava a destruir as casas [...] Como eu era da terra [praia do Furadouro], muita gente ajudou, e o filme pode ser feito com muito pouco dinheiro.
«[...] a câmara era uma velha Arriflex, velhíssima, toda desconjuntada, cujo motor mudava de velocidade a meio de cada plano, e que estava sempre a riscar o negativo.O susto era tal que eu olhava mais para o contador de imagens por segundo do que para os atores, durante as filmagens.»
Dois dos maiores nomes do canto lírico desapareceram em 2012 para sempre: Dietrich Fischer - Dieskau faleceu em Maio aos 87 anos, Lisa della Casa no passado dia 10 de Dezembro aos 93.
Flores à memória das suas vozes sublimes - assim segue um registo da ária "Und du wirst mein Gebieter sein" da ópera Arabella de Richard Strauss, captado em Munique em 1963, na companhia da Orquestra Estadual da Baviera sob a direcção de Joseph Keilberth.
Wu Guanzhong é um pintor chinês. Nasceu em 1919 e faleceu em 2010.
Wu Guanzhong, (tela que intitulei de Inverno) Saplings by the sea, 1976. O pintor dá-nos um Inverno organizado e simétrico que transmite ordem e tranquilidade. O choupo é a única árvore capaz desta simetria invernal.
O Inverno é uma estação que gosto principalmente quando é solarengo.
Morreu em Vila Nova de Gaia, com 77 anos, o cineasta que foi uma referência do Cinema Novo português. O seu filme mais emblemático data de 1963: Verdes Anos. Fica aqui, como homenagem,
o tema musical, composto e tocado por outro grande nome da cultura nacional do séc. XX, Carlos Paredes
Nijinsky dans Les Orientales, de Eugène Druet, 1910.
Duas das cem obras-primas das colecções de fotografia da Biblioteca Nacional de França patentes na exposição La photographie en cent chefs-d'oeuvre. Um século de fotografia, dos grandes nomes a desconhecidos, em França e no estrangeiro, da reportagem à composição artística.
Até 17 de Fevereiro, na BNF François Mitterrand, Paris. www.bnf.fr
Artur Baptista da Silva, a figura deste final de 2012, o homem do currículo invejável, das entrevistas prescientes, o conferencista estrela. E também atropelador de velhinhas, burlão condenado e sabe-se lá mais o quê. Ai Portugal...
«No dia 20 de maio de 1941, Ian Fleming, o futuro autor dos romances da série James Bond, registou-se no Hotel Palácio, no Estoril, e descreveu a sua ocupação como um simples funcionário governamental. Na verdade, Fleming estava em Lisboa como parte do seu trabalho na Operação Golden Eye [...] para os serviços secretos da marinha britânica. O plano seria implementado na eventualidade de uma invasão da Espanha pelos alemães [...] A estada de Fleming em Lisboa foi passada a lidar com o lado português da operação e a tratar dos preparativos com os diretores dos postos de Lisboa com vista à potencial implementação dessa operação. Também passou algum tempo com o seu velho amigo David Eccles, do Ministério da Guerra Económica. Fleming estava em trânsito e viera de Inglaterra para Lisboa com destino aos Estados Unidos.
«O serviço de hidroaviões da Pan Am a partir de Lisboa era um serviço popular para os agentes britânicos, que também usavam os voos da BOAC [...]. Fleming chegou à doca de hidroaviões de La Guardia, em Nova Iorque, na tarde de 25 de maio de 1941. Fleming e o seu dirigente, o almirante John Godfrey - que viria a ser, em parte, a inspiração para a personagem ficcional M nos romances da série Bond [...].
«Durante uma visita a Tânger, Fleming exibira alguns dos traços de teatralidade de James Bond ao alugar uma avioneta privada para poder regressar a Lisboa o mais depressa possível. Os seus relatórios de serviço revelam que apresentou cento e dez libras de despesa relativa ao uso dessa avioneta. [...]
«Na sua segunda noite no Estoril, Fleming e Godfrey passaram o seu tempo no casino, que estava invulgarmente sossegado e onde Fleming jogou à mesa apostando montantes relativamente modestos e perdeu. Quando estava prestes a sair do casino, virou-se alegadamente para Godfrey e disse algo como: e se aqueles homens sentados à mesa do jogo fossem agentes alemães e lhes tivéssemos ganho o dinheiro? Crê-se que esse incidente serviu de inspiração a uma cena do primeiro romance da série James Bond, Casino Royale, na qual Bond faz justamente isso ao malvado espião comunista Le Chiffre.»
Neill Lochery - Lisboa: a Guerra nas sombras da cidade da luz, 1939-1945. Barcarena: Presença, 2012, p. 145-146
Conta-se que um dia, em Paris, na companhia do Maestro Pedro de Freitas Branco, de quem era amigo, Ravel foi ouvir o seu "bolero", conduzido pelo Maestro Toscanini. No final, Toscanini justificou a sua interpretação dizendo que lhe dera um ritmo mais ligeiro porque o tema era muito obsessivo. Depois de o deixar, Ravel comentou com Pedro de Freitas Branco: ele não percebeu que compuz o bolero assim, porque queria que fosse obsessivo.
Maurice Ravel morreu com 62 anos, em Paris, em 28 de Dezembro de 1937
«A verdade é que a data prevista já passou. Estou a escrevê-la em inglês para ser publicada por uma editora americana, a Norton. Depois haverá certamente uma edição portuguesa, mas ainda não está definida.
«Já a está a escrever há algum tempo. É assim tão complicado?
«[...] Agora, estou a dizer não a todas as propostas. Já fiz muita pesquisa. Uma parte importante é contar os seus passos e tempos, onde, quando e como viveu, entre Lisboa e Durban. Interessa também a sua vida imaginativa. Ele tem um riquíssimo universo interior. Com todos os seus heterónimos, podemos ver o seu mundo como um sistema solar. E além da heteronímia, há todos os seus interesses dentro da Literatura, os géneros em que escreve, mas também a sua incessante busca espiritual ou os interesses políticos. Há um fazer constante em Pessoa. Insatisfeito com a vida tal como ela é, está sempre a projetar-se noutras realidades. O seu amor por Ofélia, por exemplo, e talvez outros, vive-os num plano literário. Transmitir isso numa biografia é difícil. Escrever a sua vida é contar a história de um homem que não parava. Mas como descobrir o seu fio narrativo?
«De todas as edições de Pessoa, qual prefere?
«Livro do Desassossego foi muito estimulante, por ser como sempre digo um não livro. Pessoa não chegou a organizá-lo e era preciso fazê-lo. Não deixa de ser um trabalho criativo tentar chegar a uma ordem possível, coerente e literária, respeitando-o. Porque tenho sempre essa preocupação. Evidentemente, não podemos acabar o que ele não acabou e temos de conservar o que é fragmentário. Mas Pessoa jamais teria publicado textos cheios de notas, pouco legíveis. Isso pode tirar o gosto da leitura, porque entre tantas notas, a poesia já não se vê. Na edição da Assírio & Alvim sempre houve essa preocupação de rigor e também a ideia do prazer da leitura. Também gostei muito de fazer Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal. É que foi um trabalho de detetive, percorrendo todo o espólio. Não havia quase nada publicado desses textos e foi preciso também fazer uma pesquisa dos factos biográficos. Cada livro que publiquei teve o seu fascínio.»
Extrato de uma entrevista de Richard Zenith a Maria Leonor Nunes (JL, 26 dez. 2012, p. 7)
Por aqui trabalha-se. A vista por vezes descansa e hoje ao pequeno almoço foi esta a companhia. Ao todo eram treze. Agora comiam, mais logo devem namorar...
Este Natal coube-me um livro que não esperava de todo.
Manual para a Confissão em que praticamente Se ensina a hum Penitente o modo para bem se confessar: com Orações e advertencias utilissimas para antes, e depois da Confissão, e Comunhão (...)
LISBOA: Anno M.DCCCIV Na nova Officina de João Rodrigues Neves. Com licença da Mesa do Desembargo do Paço
Dentro trazia duas imagens do Sagrado Coração de Maria datadas de 1944, uma pertencente a Pai e outra a João.
Deu um bom espectáculo, disse umas coisas giras e até pôs os
pontos nos is, é o que se diz de Artur
Baptista da Silva, o burlão que se fez passar por observador da ONU para a
Europa do Sul, conseguindo assim ludibriar milhares de pessoas, reputadas organizações
e os media. Contudo, está a despertar mais
simpatias que indignações e na blogosfera é já considerado a personalidade do
ano! Qual o desfecho deste caso é o que estamos para saber. Entretanto, vão somam-se teorias
que tentam explicar o comportamento de Baptista da Silva, um típico fenómeno
que dá pelo nome de bovarismo.
Já chegaram dois para a viagem... Este ano o Gaspar está proibido... dizem que queria criar um imposto extraordinário sobre o comércio de camas em estábulos... por isso não pode ir até Belém!
(...) Sabemos que o país está a ser vendido nos saldos. Sabemos isto e muito mais e andamos a discutir a propaganda, as insinuações do primeiro-ministro e as emissões facebookianas do Presidente. O país afunda-se na mediocridade intelectual dos seus dirigentes e valoriza, por comportamento mimético, uma política de acessórios e de negócios. De maquiavelismos da treta. Tudo tem um preço: a saúde, a cultura, a identidade, a nacionalidade, a educação, a vida. Esta gente conseguiu contaminar com a sua mediocridade toda a gente. Não é original. Da Grécia à Itália passando pela França e a Alemanha, é o que temos na Europa. Nítidos nulos. - Clara Ferreira Alves, no Expresso do passado sábado.