(...) É interessante e sintomático que, em 800 anos de Papado, a nenhum chefe da Igreja tenha ocorrido o nome de Francisco, sendo Francisco de Assis uma figura cimeira do cristianismo na sua expressão mais pura, que é o exemplo da própria vida e dos ensinamentos de Cristo. O frade mendicante que viveu na transição do século XII para o século XIII - " uma luz que brilhou sobre o mundo ", segundo a muito vulgarizada citação de Dante Alighieri - revolucionou a religião no seu tempo. O facto de terem passado oito séculos antes de um eleito escolher o seu nome, e com isso o apresentar como guia espiritual, diz alguma coisa sobre as referências dos Papas, sobre o modo como interpretam a função da Igreja e como encaram o luxuoso trono em que se sentam.
A importância de se chamar Francisco e, sobretudo, a circunstância de parecer estranho aos mecanismos de poder estabelecidos numa estrutura tão fechada sobre si própria como é a Cúria Romana, parecem um trunfo nos dias que correm. Mas não seria a primeira vez, como sugere a própria resignação de Bento XVI, que uma máquina de poder neutralizava ou destruía um líder bem-intencionado. Talvez por ter consciência disso, Francisco tenha começado por pedir aos católicos que rezassem por ele no momento em que se lhes apresentou.
- Fernando Madrinha, A importância de se chamar Francisco, no Expresso do passado sábado.
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