«Há meio século que os vencidos da Segunda Guerra Mundial tentam levar a cabo uma empresa política inédita que é fazer da Europa uma entidade económica, política e cultural análoga à "nação" que nunca foi até aos dias de hoje. [...]
«Paradoxalmente, a mais europeísta das grandes nações - apesar das suas limitações ético-políticas - é mesmo a Alemanha. A antiga "nação do marco" é hoje o novo FMI do euro. Só ela dispõe ainda de um poder económico - apesar ou talvez por estar desarmada - para dar a uma "utopia" europeizante um rosto que possa levá-la a enterrar os fantasmas tenebrosos que um dia a arrastaram para o abismo. Só ela dispõe ainda de seduções históricas paradoxais para lhe assegurar a centralidade política que o destino lhe atribuiu ou ela construiu. Quem pode construtivamente, por mais fantasmas terríficos que a hipótese desenterre, trazer as "europeias" Ucrânia e a grande Rússia para o espaço europeu que a História lhe concedeu? E mesmo a Turquia, com que a Alemanha tem mais familiaridade que ninguém? [...]
«Se calhar a Europa não precisava - nem precisa - de ir para lado nenhum, nem ter um outro estatuto histórico, político e ideológico e pleonasticamente cultural mais adequado do que o da sua multíplice realidade que foi sempre o seu. Aqui se forjou o mundo moderno. E a modernidade do mundo. Lembremo-nos disso. Não precisamos que ninguém nos salve. Precisamos de nos salvar nós mesmos. Já não é pouco.»
In: Público, 12 jul. 2012
E até fica explicada a vinheta :)
ResponderEliminarEstá tudo dito com a clarividência que sempre o caraterizou.:)
ResponderEliminarTotalmente de acordo !
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