Lisboa: Bizâncio, 2005
2.ª ed.: 2007
«Mandela tornou-se um herói. É
um mito cuja génese, força e exemplo quis aqui narrar. Tive a oportunidade e o
privilégio de conhecer Mandela há mais de dez anos, depois de, com muitos
outros militantes, ter contribuído para o boicote à antiga África do Sul e
militando a favor da sua libertação.
«Mandela, nascido em 1918, é o rebelde que se empenha no combate à injustiça
cometida contra os Negros. Primeiro pela via do direito e da não-violência,
como Ghandi, depois, a partir de 1944, na ilegalidade e na clandestinidade. É
também o cativo sem ódio que descobre o teatro na prisão e se transforma em
homem de Estado pronto a dar provas do seu talento logo que é libertado, numa
negociação impossível em que a paciência, a tolerância e a democracia lhe
permitem evitar um banho de sangue. É finalmente aquele que renuncia à vingança
para personificar uma noção ‘arco-íris’.
«Foi meu propósito ser um modesto
transmissor deste destino aos leitores de hoje, nomeadamente aos jovens.» (Jack
Lang)
Este livro de Jack Lang, que li há anos, é muito interessante,
dado que a personalidade de Nelson Mandela é abordada de um modo inovador.
«Se a vida é um palco de teatro, em que os homens e as mulheres desempenham um papel de atores –
e é assim que Jack Lang ilustra o seu tema – então o papel de uma grande obra
consiste em encarnar, prolongando o tempo da sua passagem, o destino daqueles
que, antes dele, foram investidos de idêntica missão. Assim, Jack Lang atribui
a Nelson Mandela o papel principal de um maravilhoso drama em quatro atos, que
passa em revista a sua vida e a sua época, bem como a formação complexa da luta
pela liberdade na África do Sul. Nele, Mandela é identificado com as
personagens carismáticas que, de Ésquilo e Sófocles a Beckett, marcaram a história
da filosofia e da ação moral.
«No I Ato, Mandela
é Antígona perante o rosto soturno do apartheid,
que o priva, e ao seu povo, dos seus direitos humanos. No II Ato, surge como
chefe de um bando de revoltados contra as forças do regime sul-africano,
assumindo os traços do célebre gladiador Espártaco, que outrora se opôs aos
Romanos. No III Ato, à imagem de
Prometeu, é agrilhoado ao rochedo do racismo por ter roubado aos deuses do
apartheid – e dado aos mortais – a chama da resistência a Zeus, chefe máximo do
regime impiedoso. Finalmente, no IV Ato, Mandela volta á sua época e à sua
idade atuais, mas sob a identidade de Próspero, benfeitor da humanidade e
vencedor de Calibã.» (do «Prefácio» de Nadine Gordimer). Finalmente, o V Ato intitula-se «O rei Nelson».
E quais as epígrafes escolhidas para cada um dos atos? I Ato:
«Antígona simbolizava a nossa luta; ela era, à sua maneira, uma lutadora pela
liberdade.» (Nelson Mandela); II Ato: «Um dono? Que disseste tu? O negro já não
tem dono. Espártaco quebrou-lhe as grilhetas algures que não em Roma» (Lamartine,
Toussaint-Louverture); III Ato: «Tu
és grande, e grande é a prova que vais enfrentar: / A tua glória irá até apo
ponto de colidir com o céu.» (Eurípedes, As
Bacantes): IV Ato: «Para quê obstinares-te no rancor? Destruída a tua
pátria, terás avançado?» (Sófocles, Édipo
em Colona); V Ato: «nenhum torpe desígnio, nenhuma ingrata inveja / Atacará
o curso de tão bela vida. / Haveis descoberto toda a arte de conquistar os
corações.» (Corneille, Cinna)
A vida de Mandela é interligada, em cada um dos atos, com a
dos heróis da mitologia.
Fiquei com vontade de ler o livro. Obrigado.
ResponderEliminar