Comprei hoje um livro que desconhecia: Louças da China ao gosto ocidental : Algumas notas, escrito por José Bouza Serrano. É uma edição de 2000, de mil exemplares. Julgo que é edição de autor (pelo menos não indica editor, apenas que teve o patrocínio da Eurocabos).
O livro é composto por duas partes. Uma história, bem construída, do fabrico das peças que são o tema do livro, contada e ilustrada com as peças maravilhosas (grande maioria da sua coleção). E nos comentários e descrição das peças existe, quase sempre, uma pequena história que torna tudo mais fascinante.
Um pequeno exemplo do que acabo de dizer é a história que envolve a «Tigela para pingos em "grisaille" com vermelho de ferro e dourado». Trata-se de uma pequena peça (12 cm de diâmetro, por 6 de altura) datada de circa 1775 (dinastia Quing: 1644-1912), com uma pintura que se pode observar:
Transcrevemos, da p. 116, o comentário:
"Zéfiro oferece uma flôr [sic] em botão a Flora, que segura uma grinalda. Filho de Aurora e Astreo, era irmão dos restantes três ventos Euro, Noto e Borea.
Zéfiro era muito amigo de Hiacinto, um efebo espartano de beleza admirável, que conquistara a amizade de Apolo, com quem jogava ao lançamento do disco na margem dum rio.
Zéfiro tinha ciúmes do amor de Apolo e um dia em que ambos jogavam ao seu jogo predilecto, Zéfiro fez desviar com um sopro o disco atirado por Apolo, de modo que este foi bater na cabeça de Hiacinto, matando-o. O desespero e a mágoa de Apolo foram imensas e, para atenuar a sua dôr [sic], tornou Hiacinto imortal, transformando o seu sangue na flôr do mesmo nome, de cheiro intenso, que renasce cada Primavera.
Flora era uma antiga divindade itálica, deusa da vegetação e da agricultura. Flora tinha em Roma, como sacerdote, um dos flamínios menores (in flamen floralis) e celebravam-se festas em sua honra, de 28 de Abril a 1 de Maio - as Floralia.
(Nota: Ayers atribui a cena aos amores de Vénus e Cupido, com base numa peça de Meissen do British Museum que reproduz uma cena inspirada na mesma gravura (J. C. Philips, China Trade Porcelain, p. 47). No entanto, as asas fazem ver que se trata realmente da representação de Zéfiro)".
Sinceramente não consigo ver a história na representação. Vejo mais a história de Cupido e Psiquê (e lembre-se que Cupido também tem asas... mas isso já são outras histórias).
Voltemos ao livro Louças da China ao gosto ocidental : Algumas notas. A segunda parte são «notas pessoais» que se leem com maior curiosidade. A n.º 13 (p. 207-208), tem como título «porcelana e etiqueta». Nela conta alguns dos bastidores que antecederam o "casamento do senhor Dom Duarte", acrescentando «esta questão está hoje perfeita e felizmente resolvida". E apresenta o menu de um jantar em casa de Duarte Pinto Coelho (1923- ), em Madrid, onde o mesmo assunto fora debatido. E a história era só para contar que, nesse jantar, a Princesa Yolanda de Cröy lhe tinha explicado que a razão de determinado pires, de uma chávena de chá, ser tão grande residia no facto de ter sido moda em muitos salões, nos séculos XVIII e XIX, "sorverem o chá directamente do pires, pelo que tinha idêntica capacidade à da chávena". E porque é que apresenta o menu do jantar? Por uma curiosidade: ser escrito, á mão, em papel timbrado com as Armas de Malawi (de que Duarte era Cônsul honorário)... Mas o mais interessante vêm a seguir: «o papel de carta ("muito chique, tenho resmas", Duarte dixit) ainda o usa às vezes, com os amigos, acrescentando à mão "Ex.-" antes de Cônsul do Malawi».
O livro deve ser giro. Candidato-me a Lê-lo. :)
ResponderEliminarA peça é interessante, parece-me que um polvo gigante envolve os amantes. Gostei de ler esta postagem.
ResponderEliminarO livro deve ser igualmente interessante.
A ideia que confronta com a descrição torna a leitura mais atraente.
A história do pires é estranha.
Bom dia. :)
A história do pires.... Será daí que vêm os pirosos....
ResponderEliminarPirosos... Não me tinha lembrado disso!
ResponderEliminarQue giro.
Bom dia!
ResponderEliminarDeve ser interessantíssimo esse livro! Se o visse à venda também o comprava.
Conhecia essa história dos pires, até tenho alguns antigos desse formato com paredes altas, permitindo que se sorvesse o chá a partir deles, mas não sei se já mencionei no blogue essa função "pirosa" :)
Tenho que me lembrar de o mencionar um dia destes...
E Maria A. fez um post sobre o chá ser bebido em pires. aqui fica o endereço http://artelivrosevelharias.blogspot.pt/2013/07/a-beber-cha-pelo-pires-drinking-tea.html
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