terça-feira, 20 de agosto de 2013

Praias e lugares da minha infância - 9

Gravura antiga de Setúbal

Mesmo no tempo invernoso, mas mais na Primavera e no Outono, um dos lugares onde o meu pai gostava de ir, aos domingos, em passeio, era Setúbal. Era, então, nos anos cinquenta do século passado, uma cidade mais pacata. Embora não ficasse a uma grande distância de Lisboa, os transportes públicos eram mais vagarosos, principalmente as camionetas, mas também o comboio e não havia autoestrada que permitisse, como hoje já acontece, viver ali e trabalhar na capital.

 
 Setúbal vista do mar
 

Era programa de dia inteiro. Chegava-se perto do almoço que era tomado num dos restaurantes da Av. Luísa Todi ou junto à doca. Depois passeava-se. Umas vezes junto à costa, até uma monstruosidade chamada Secil, um atentado ao ambiente e à paisagem. Outras vezes dentro da própria cidade, vendo lugares antigos e visitando, por exemplo, a Igreja do Convento de Jesus. Também se ia, não me recordo como, mas creio que quando na companhia da minha tia Ema, irmã mais velha da minha mãe e do meu primo Rogério que tinha carro, até ao Forte de S. Filipe onde se lanchava e se gozada a maravilhosa vista sobre a baía, a cidade e do outro lado Troia. Com eles também me lembro de ter ido, a partir de Setúbal e no regresso a Lisboa, à serra da Arrábida, a "serra mãe" de Sebastião da Gama.

Forte de S. Filipe

Num desses passeios aprendi muito mais sobre Bocage, cuja estátua inaugurada em 1871 vi na praça com o seu nome, do que as anedotas inocentes que dele sabia ("o pum que esta senhora deu, não foi ela, fui eu") e Luísa Todi, por curiosidade em saber quem dera nome à rua onde passava em cada visita e ao seu busto, num monumento com pautas musicais.


Outro passeio que fazíamos a partir de Setúbal, de ferry boat, para grande gáudio meu e da minha irmã, era Troia, onde passeávamos à beira mar, lanchávamos e onde visitámos as ruinas romanas, cujos    trabalhos conheciam então novo ímpeto.

Não resisto a contar um pequeno episódio, passado uns anos depois, com um amigo de infância que teria então os seus 13 ou 14 anos e é hoje um conceituado heraldista que, interessado por tudo o que era História e cultura em geral, resolveu ser arqueólogo por conta própria em Troia. Um dia, não sei porque artes, conseguiu subtrair e trazer para casa, muito muito perto da minha, uma ânfora romana. Vinha ufano. E tão ufano, que ao entrar em casa tropeçou no capacho e fez em cacos o achado arqueológico. Tentámos, eu e ele, restaurar a ânfora. Tarefa impossível.

 Ruínas romanas de Troia
 
E aqui termino as minhas lembranças das praias e lugares por onde passei  quando era menino e moço. Haveria por certo outros: ou sem recordações especiais ou apenas lugares episódicos.

7 comentários:

  1. Também fazia parte dos meus passeios familiares, normalmente com amigos dos meus pais. E tal como o JMS: almoço e lanche, este uma vezes na Pousada, outras vezes na Pastelaria Esperança.
    Os familiares de uma amiga minha tinham lá uma casa, de modo que ainda fui, durante dois ou três anos, lá passar alguns dias com ela. E íamos de barco até Tróia.

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  2. Fiquei com vontade de experimentar fazer este passeio um dia - conheço muito mal Setúbal.

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  3. Setúbal, como a maioria das cidades de província, estão para mim irreconhecíveis, com exceção do centro-centro. :)

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  4. João,
    Parabéns por estas viagens que foram feitas com prazer.
    Já não vou a Tróia há algum tempo. Fui das duas maneiras de carro e de ferry boat.
    Lamentavelmente nunca fui às ruínas. :(
    A Serra da Arrábida gosto muito e adoraria passar dois dias no Convento da Arrábida, outrora mosteiro de franciscanos.
    Adorei a história do arqueólogo apesar de não acabar bem. :(
    Grata por esta partilha.

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  5. De Setúbal também me lembro de ir à Pousada cuja vista é deslumbrante.
    :))

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  6. Porque cheguei ao fim desta série de recordações, quero agradecer a um querido amigo prosimetrista que teve a pachorra de corrigir em três textos um terrível erro de palmatória e só depois mo dizer. Um erro ortográfico feito uma vez, tende a repetir-se até nos corrigirem. Terei de ir para o ensino de adultos? O pior é que parece que já não há...

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