Dado que um historiador deve ser um feiticeiro, aqui ficam os meus conselhos para os aprendizes de feiticeiro.
O que se deve evitar ao fazer história:
Anacronismo: tentamos apresentar soluções em função do presente, com a psicologia atual e não em função do passado; acreditar que não houve mudanças no meio-físico; julgar que as mesmas opções sempre foram válidas ao longo de todos os tempos; não atender às leis próprias de cada época.
Voluntarismo: querer demonstrar, a qualquer custo, uma teoria; inventar uma ordem para uma época; criar uma doutrina sobre o "real" para o explicar; selecionar apenas documentos (sem os interrogar) em função da doutrina ou da tese que se quer defender, ou que se criou a priori; silenciar os documentos que são contrários à logica que tentamos impor ou demonstrar.
Nominalismo: tentativa de esquecer (e de contemplar no trabalho, apenas o documento escrito) aquilo que não está escrito, o que não está dito, isto é, o papel dos homens e a forma como eles vivem...; por vezes o historiador encontra-se prisioneiro das suas fontes, do seu conhecimento, da sua formação, da sua falta de experiência e faz uma história sem sensibilidades, sem vida.
Acreditar que se conhece a verdade: crentes que conhecemos tudo queremos demonstrar esse conhecimento, criando verdades em vez de colocar dúvidas; Qualquer trabalho tem de ser honesto e na maioria das vezes é, necessariamente, incompleto e provisório; são raros os historiados que apresentam duas hipóteses de trabalho, face a uma dúvida; como são igualmente raros os historiadores que confessam terem dúvidas; que as colocam aos leitores. O historiador deve ter a consciência dos limites daquilo que acredita saber; deve esforçar-se em delimitar as zonas cinzentas, duvidosas, as margens da incerteza e tentar chegar ao que não é compreensível - ir mais além; deve interrogar constantemente. Com essas interrogações vai, ou pode ir, mais além, descobrir novos caminhos, novas fontes. Um livro de história pode pecar, não pelo que afirma, mas por aquilo que não conseguiu ousar pensar. Um livro de história deve deixar janelas abertas; pode deixar dúvidas, estados do conhecimento incompletos... que outros depois completam, confirmam ou desmentem.
Creio que foi ao fundo da questão, de forma sucinta. Pelo menos, parece-me, embora eu não seja especialista na matéria...
ResponderEliminarTem que haver a dúvida metódica.
ResponderEliminarLevanta um velho problema que divido em 2 itens:
- A fonte ser a resposta [o que exclui a possibilidade (interrogação) do que se não queria dizer na época]
- O sujeito não se imiscuir. Como no Direito ou na justiça contra os factos não há argumentos.
Quem ousa dizer que tem a verdade? É, no meu entender, a procura dela que move o homem e o leva no caminho da perfeição [inatingível].
Interessante.
Boa tarde.
Lembrei de um trechinho de minha vida. Um livrinho de Matemática,cujo título era:"Aprendiz de Feiticeiro". Só exercícios de matemática. Quem não sabia,pensava que era um livro de feitiços.Mas, quem enfetiça encanta,antes abala.
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