terça-feira, 5 de novembro de 2013
Citações
( ... ) Foi então que gizou um plano. Porque não ir até Paris, onde se matricularia num daqueles cursos, com nomes sonantes, que tinham dado fama à Faculdade de Sciences Po? Porque não passear-se, no Boulevard Saint-Michel, com um iPad debaixo do braço? Porque não comer croissants, ao lado de turistas americanos, na esplanada do Café de Flore? Até já tinha um título, " A Confiança no Mundo ", para a tese que tencionava escrever. Sim, porque ele era um optimista, não um covarde como Teixeira dos Santos, que se fora abaixo ao primeiro indício de não haver dinheiro nos cofres do Estado.
Havia contudo um óbice. Para se viver em Paris, era necessário cheta. O rendimento dos andares da mamã e um empréstimo da CGD resolveram o problema. Mesmo sem saber Latim, Grego, Francês ou Alemão, Sócrates tinha a certeza de que Kant o esperava à beira do Sena. Partiu com o espírito cheio de sonhos. Quanto mais se passeava pelos boulevards, mais desprezo sentia pelo país onde nascera. Nem a Presidência da República lhe parecia agora apetecível : " Não sinto nenhuma inclinação para voltar a depender do favor popular ". Em vez de se submeter a eleições, o que desejava era continuar a jantar na Brasserie Lipp ao lado de " intelectuais ". Antes, não sabia que existiam " vidas assim tão boas ". Agora, que o descobrira, hesitava em regressar ao ninho.
- Assim termina a deliciosa, e demolidora, crónica de Maria Filomena Mónica sobre o regresso de Sócrates à pátria. Foi no Expresso do passado sábado, e vale a pena ler na íntegra.
Ainda há dias em que penso naqueles meses surreais de 2011, em que estando o país à beira da insolvabilidade ainda havia quem falasse em novos aeroportos de Lisboa, TGV e mais não sei o quê.
Para LB:
ResponderEliminarnão reconheço autoridade de crítica aqueles que, desde sempre, se alimentam, directa ou indirectamente, da mesa do orçamento.
hmj : não percebi. Refere-se à autora da crónica? Que eu saiba, foi realmente funcionária pública até se aposentar, mas era o que faltava que quem vivesse, directa ou indirectamente do Estado, perdesse a liberdade de crítica por causa disso. E quem paga impostos tem, para mim, sempre o direito de crítica, seja trabalhador público ou privado.
ResponderEliminarLuís,
ResponderEliminarGosto da escrita de M. Filomena Mónica. É uma questão de background.
Sempre gostei da escrita lúcida e inteligente da Maria Filomena Mónica.
ResponderEliminarPara LB:
ResponderEliminarEstamos, certamente, a falar de "orçamentos" diferentes. O meu, em sentido figurado, o seu, literal.
Esta mulher, não!
ResponderEliminarO Luís Barata tem alergia ao José Sócrates, eu tenho à Maria Filomena Mónica.
E eu a ambos...
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