sábado, 16 de novembro de 2013

Citações



(...) Não é coincidência que as personagens que por aí o incensaram ignorem quase totalmente a política e se lembrem muito bem de episódios triviais, em que o " soberano " magnanimamente desce à inferioridade dos serventes e cortesãos para se mostrar bondoso, sensível, irónico e até paternal. Nas memórias que escreveram depois da revolução, os fiéis do " martirizado " Luís era assim que o lembravam.
Como hoje se lembram de Cunhal os militantes do PCP, os " companheiros de caminho " e umas largas dúzias de patetas. O indivíduo que planeava transformar Portugal numa espécie de Bulgária do Ocidente, o promotor do PREC, o responsável pelas " nacionalizações " e pela ocupação dos " latifúndios ", o desorganizador da economia, o inimigo da " Europa ", esse parece que desapareceu. Só resta, com muito sentimentalismo, como ele gostaria, a máscara do " soberano ", perante a qual ainda uma pequena parte do país se acha obrigada a genuflectir.
A consciência histórica dos portugueses é um óptimo reflexo da inconsciência que os trouxe à miséria e ao desespero.

- No Público de ontem.



5 comentários:

  1. Acho que as pessoas da minha geração (e com o meu posicionamento político) olham para Cunhal de dois modos: admiram e agradecem a sua luta antes do 25 de Abril pelo fim da ditadura em Portugal e não podem esquecer o pós-25 de Abril em que ele tentou transformar Portugal num satélite da URSS, tendo o nosso país estado à beira da guerra civil.
    Por outro lado, é um escritor razoável e poderia ter sido um grande pintor. E era um homem cheio de carisma.
    Não sei se teria ido ao funeral dele, mas o caso não se pôs porque estava fora.
    Talvez o VPV também devesse ter referido os volumes já publicados da biografia (exemplar) que Pacheco Pereira está a escrever sobre Cunhal.

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  2. Em continuação: em vez de só falar das 'hagiografias' porque é o que lhe convém.

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  3. M.R. : Concordo em grande parte com o que escreveu. Não podemos ignorar as qualidades pessoais e talentos do homem, nem os seus defeitos pessoais e muito menos as consequências advenientes das suas ideias políticas... Mas em Portugal os mortos são todos bons. Quanto à biografia feita pelo Pacheco Pereira, como saberá Cunhal recusou sempre colaborar o que poderá ter várias leituras...

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  4. Cunhal pode não ter colaborado, mas a biografia política é muito boa e parece-me muito isenta.

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