domingo, 22 de dezembro de 2013
Citações
01.06.06
Nas despedidas há sempre um impulso de rejeição. É a denegação da dor do abandono.
É assim nas gares, nos aeroportos, nos cemitérios. Há mesmo quem nunca vá a despedidas e funerais.
Conviemos em acabar dentro de mais um mês.
As Novas Cartas Portuguesas foram nove meses. Uma gestação juvenil, a termo.
Será isto um prematuro frustre?
Mas o tempo é de estufas, gravidezes assistidas, remoção de maternidades.
Pressa e demora do que nasce em Portugal. Do que ainda nos nasce.
En su sitio, como se diz das bandarilhas bem cravadas. Ferros para fora.
Detesto despedidas.
Cold feet, que é como os ingleses designam a parestesia do medo que vem subindo.
E ainda ( me ) falta todo o material escolar. Da literacia e da discalculia.
E dos dislates e alguns acertos no Palácio das Madres.
E do Crato, a luminescente ausência da avó materna, que tentei recuperar no Amante do Crato.
Uma certa tenebrosidade nos céus do British Quintal. Uma luz cinzenta, abafada, sem água. Torna-se penoso ter de regar tantas vezes, carregar a mangueira em braços através da casa para chegar aos canteiros da frente.
Mas vale a pena.
Pela manhã seguinte há uma ridência nas folhas e flores, uma iridescência verde que contraria o cenho de calor do céu fosco, branco-sujo. (...)
- Maria Velho da Costa, in O Livro do Meio - romance epistolar ( escrito a quatro mãos com Armando Silva Carvalho ), Caminho, 2006.
E assim assinalo a atribuição do Prémio Vida Literária ( APE ) a Maria Velho da Costa. Uma justíssima escolha.
Um prémio justo.
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