Aguinaldo Fonseca
Morreu ontem em Portugal, onde vivia desde 1945,com 91 anos, natural do Mindelo, Cabo Verde. Muito poucos saberão quem foi. Mas muitos conhecerão o poema
Mãe Negra
A mãe negra embala o filho.
Canta a remota canção
Que seus avós já cantavam
Em noites sem madrugada.
Canta, canta para o céu
Tão estrelado e festivo.
É para o céu que ela canta,
Que o céu
Às vezes também é negro.
No céu
Tão estrelado e festivo
Não há branco, não há preto,
Não há vermelho e amarelo.
—Todos são anjos e santos
Guardados por mãos divinas.
A mãe negra não tem casa
Nem carinhos de ninguém...
A mãe negra é triste, triste,
E tem um filho nos braços...
Mas olha o céu estrelado
E de repente sorri.
Parece-lhe que cada estrela
É uma mão acenando
Com simpatia e saudade...
Foi publicado em Portugal e o primeiro autor a utilizar áfrica na substância poética de Cabo Verde, que reuniu alguns dos seus poemas no suplemento Notícias de Cabo Verde em 1957, depois de ter publicado em 1951 a colecção "Linha do Horizonte". As injustiças sociais e o ardor cívico perpassam pelos seus poemas, bem como o sentido da insularidade.
Canção dos rapazes da ilha
Eu sei que fico.
Mas o meu sonho irá
pelo vento, pelas nuvens, pelas asas.
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá ...
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá
Nos frutos, nos colares
E nas fotografias da terra,
Comprados por turistas estrangeiros
Felizes e sorridentes.
Eu sei que fico mas o meu sonho irá ...
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá
Metido na garrafa bem rolhada
Que um dia hei de atirar ao mar.
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá ...
sei que fico
Mas o meu sonho irá
São bonitos os poemas.
ResponderEliminarBom dia!