A Ana já trouxe aqui este livro de Mircea Eliade. Mas como estava para o ler, desde a sua publicação em 2008, e finalmente o estou a fazer, vou publicar uns excertos dele.
El Greco - A Ressurreição, ca 1596-1600
Madrid, Museu do Prado
«(Apontamentos tomados durante as oito sessões no Museu do
Prado.)
«Não se pode compreender a Espanha da época de Dom Quixote,
senão através de El Greco. A tensão espiritual; o paradoxo; o flirt com a
loucura.»
Goya - La gallina ciega, 1788
Madrid, Museu do Prado
«[…] Goya. Agora, começo a gostar cada vez mais dos seus
trabalhos para tapeçarias, do subsolo do museu. […] Goya introduz na pintura
‘as horas vagas’ da burguesia e dos pobres (jogos, diversões), costumes,
trabalhos, acontecimentos periféricos (o casamento nos subúrbios). Goya traz
igualmente um novo mundo de figuras humanas, mesmo antes dos Caprichos. Tudo
isso tem de ser compreendido pela valorização da pessoa humana e dos trabalhos
não-aristocráticos, realizada em finais do século XVIII (enciclopedistas, e
sobretudo Diderot, esforçaram-se para homologar o trabalho manual à criação
espiritual). Goya corresponde, assim, à Enciclopédia. Não sei se algum
especialista reparou nisso.»
Gosto muito de Goya, mas parece-me que, no caso do
quotidiano, Mircea Eliade esquece os flamengos que pintaram cenas de jogos e
diversões, cenas de trabalho, bodas, etc., muito antes do pintor espanhol.
Pedro Nuñez de Villavicencio - Niños jugando a los dados, 1685
Madrid, Museu do Prado
«Tenho de salientar, no entanto, que não foi Goya a
introduzir a etnografia na pintura […]. Villavicencio (na segunda metade do
século XVII) tem um quadro esplêndido: Muchachos
jugando a los dados. É um assunto completamente ‘profano’ pertence ao ethnos, e não ao cosmos.
«Mas Goya generalizou-o e impôs essa revolução.»
Mircea Eliade – Diário
português: [1941-1945]. Lisboa: Guerra e Paz, 2008, p. 81-83
Não conhecia este Villavicencio. Murillo também tem um quadro sobre o mesmo assunto, anterior ao de Villavicencio:
Murillo - Niños jugando a los dados, ca 1675-1680
Munique. Alte Pinakothek
Registo maravilhoso.
ResponderEliminarGostei muito de ler este livro.
Boa noite!:))
Entretanto, já o acabei e tb gostei.
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