sábado, 31 de maio de 2014

O Amor aos Sessenta


Isto que é o amor (como se o amor não fosse
esperar o relâmpago clarear o degredo):
ir-se por tempo abaixo como grama em colina,
preso a cada torrão de minuto e desejo.

Ser contigo, não sendo como as fases da lua, 
como os ciclos de chuva ou a alternância dos ventos, 
mas como numa rosa as pétalas fechadas, 
como os olhos e as pálpebras ou a sombra dos remos

contra o casco do barco que se vai, sem avanço
e sem pressa de ausência, entre o mito e o beijo.
Ser assim quase eterno como o sonho e a roda
que se fecha no espaço deste sol às estrelas

e amar-te, sabendo que a velhice descobre
a mais bela beleza no teu rosto de jovem.

Alberto da Costa e Silva
Prémio Camões 2014

7 comentários:

  1. Brasileiro por brasileiro, eu votaria em Manoel de Barros (1916), que ainda está vivo. Mas, nestas coisas, "mais vale cair em graça, do que ser engraçado" e o quase centenário poeta é um homem discreto, apesar de Sagitário...
    Bom dia!

    ResponderEliminar
  2. A escolha de Alberto da Costa e Silva teve a ver com a transversalidade da sua obra. ara além de poeta, é historiador e africanólogo.
    Um brasileiro que é africano e português, como disseram Agualusa e José Carlos de Vasconcelos.
    Eu fiquei contente.
    Só conheço Manuel de Barros pelo Arpose. Vou tentar comprar um livro dele.

    ResponderEliminar
  3. Costa e Silva soube trabalhar bem a sua "carreira"... e, neste caso, premiou-se a Poesia e não outras actividades, daí a minha preferência, dos vivos e que eu conheço, pelo Manoel de Barros, que se "promove" pouquíssimo, ainda para mais, agora, adoentado e muito idoso.
    Drummond admirava-o imenso, e eram amigos.
    Vai ter extrema dificuldade em arranjar, por cá, livros do Manoel de Barros - boa sorte!
    Mas eu tenho 2, que posso emprestar-lhe.
    Um óptimo domingo!

    ResponderEliminar
  4. APS,
    O prémio foi dado ao conjunto da obra, como é sempre: «"Mantendo a mesma elevada qualidade literária em todos os géneros que praticou, a sua refinada escrita costurou uma obra marcada pela transversalidade", começou por dizer Affonso Romano de Sant’Anna, presidente do júri, que leu a acta da decisão do prémio aos jornalistas. "A obra de Alberto da Costa e Silva é também uma contribuição notável na construção de pontes entre países e povos de língua portuguesa", continuou o brasileiro.
    Questionado pelo PÚBLICO sobre a escolha do historiador, Affonso Romano de Sant’Anna explicou que para se chegar ao premiado foram vários os nomes falados, o processo de escolha "passou de alguma maneira em revista o que nós sabemos da cultura brasileira, portuguesa e africana mas fixou por unanimidade no nome de Alberto da Costa e Silva, um exemplar dessa cultura".» (Público)

    Agradeço e aceito o empréstimo dos dois livros. :)

    ResponderEliminar