Comparável, em tantos aspectos, ao Fontismo oitocentista, o Cavaquismo caracterizou-se sobretudo por uma política de fomento económico e de saneamento financeiro, visando a modernização do País e a sua integração numa Europa comunitária em que Portugal não ocupasse o último lugar.
Para esse efeito, empenhou-se no desenvolvimento das infra-estruturas de comunicação e transportes [...].
O Cavaquismo tocou ainda aspectos da vida nacional, nomeadamente nas áreas do turismo, do saneamento básico, da concertação social, da construção de novos fogos e estabelecimentos de ensino, etc. A política de liberalização esteve na base de todo o sistema com sucessivas e sistemáticas desprivatizações, hostilizando-se por princípio toda e qualquer estatização.
O Cavaquismo não foi, todavia, acompanhado por um sentido humanista de governo nem por uma política cultural digna do nome. Tentou-se uma ampla reforma do ensino com premissas reaccionárias e resultados dúbios, onde o tecnicismo e cientismo predominaram, clara e excessivamente, sobre as disciplinas de carácter social e humano.
A tentação do autoritarismo despótico e a tendência para o clientelismo e para a confusão entre Estado e partido governante caracterizaram também o período de 1985-95, nomeadamente o seu último mandato. Voltaram à tona, abertamente protegidos e defendidos ou simplesmente tolerados pelo poder, valores muito típico do «Estado Novo» e do reaccionarismo católico, esquecendo-se ou omitindo-se muitos dos princípios da revolução de 25 de Abril e, de uma maneira geral, do esquerdismo socialista e socializante. Nesta medida, o Cavaquismo representou bem a síntese entre Marcelismo pré-1974 e o revolucionarismo dos primeiros anos posteriores ao 25 de Abril.
Breve História de Portugal, 8.ª ed, Lisboa, Presença, 2012, p. 721-722
A. H. de Oliveira Marques nasceu a 23 de agosto de 1933, morreu aos 73 anos.
O Historiador tem de estar atento ao seu dia a dia, tem de participar no colectivo, mas tem de ser rigoroso e isento.
No alvo!
ResponderEliminarO Cavaquismo gerou um tipo de relações nas empresas absolutamente intolerante. Quem viveu esses anos lembra-se bem.
Além disso fomentou a ascensão de um certo tipo de mentalidade, que governa o espírito dessas criaturas que hoje nos governam hoje, em que o dinheiro vale tudo.
Infelizmente, essa mentalidade é transversal na sociedade portuguesa, mais ou menos neoliberal.
Miss Tolstoi
Subscrevo.
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