sábado, 3 de maio de 2014
Em torno da ficção
Uma encenação brilhante, uma atmosfera belíssima e um quadro. Aconselho vivamente a ida ao cinema para ver The Grand Budapest Hotel, o filme é de Wes Anderson com argumento baseado nas memórias de Stefan Zweig. O elenco é fantástico.
Michael Tyler, The Boy With Apple
Michael Taylor, an artist who we have worked with for almost 10 years and who has held two successful solo exhibitions with us, is currently enjoyed a rather raised profile due to his collaboration with the film director Wes Anderson. Michael is no stranger to high profile exhibitions. Four of his paintings are in the collection of the Nation Portrait Gallery after all. But a new work (Boy with Apple) plays a central part in Anderson major new film, The Grand Budapest Hotel. Here Michael explains the process of producing the artwork and something of the paintings role in the film.Film director Wes Anderson approached me in 2012 to paint a fictional Renaissance portrait to be titled 'Boy with Apple' for his next film The Grand Budapest Hotel. The plot pivots around the theft and recovery of a priceless portrait by Renaissance master Johannes Van Hoytl. Intrigued by the script and surprised to hear that he intended to commission a real portrait, I decided to come onboard. For inspiration Wes bombarded me with a bewildering selection of images by Bronzino, 17th Century Dutch painters, Durers, all kinds of stuff, even some Tudor portraits. I found this terribly confusing at first until I realized that each image contained some required element that had to be worked into the painting. He clearly knew exactly what he wanted; it was just that nothing quite like it yet existed. It was an irresistible challenge. [link]
Livros de cozinha - 77
Hoje trago uma revista inglesa, Home Cookery and comforts. Nunca a vi, nem consegui saber quando começou a sua publicação e quando teve o seu fim. Este é o n.º 227, de julho de 1927 e pertence ao vol. 17. Se cada volume corresponder a um ano, a revista ter-se-á iniciado cerca de 1910. Mas se era semestral...
"Odisseia do Direito"
Jacobello del Fiore, Justiça entre os Arcanjos Miguel e Gabriel,
Academia de Veneza (WikimediaCommons)
Academia de Veneza (WikimediaCommons)
(...) também na Odisseia do Direito estava tudo a flutuar no rio: os objectivos do Direito, os seus sobressaltos e declínios, o bom e o mau, o racional e o irracional, a verdade e a mentira. Na Odisseia do Direito, a única coisa que resta são as grandezas abstractas Justiça e Injustiça - e a verdade é que é necessário tomar decisões continuamente.
Bernhard Schlink, O Regresso. (Tradução de Fátima Freire de Andrade). Porto: Asa, 2008, p. 248.
sexta-feira, 2 de maio de 2014
O que me apetecia hoje...
Dorota Bogdan Bialy - Dim sum em cesto de bambu
«A culinária é a arte de fazer obras-primas que logo se desfazem.»
Carlos Drummond de Andrade
Marcadores de livros - 150
De uma caixa com dezasseis marcadores, que recebi há dias, com desenhos de Georges Lepape e Georges Barbier para a Gazette du Bon Ton (1912-1925).
Georges Lepape
Georges Barbier
Túlipa - Como uma flor vermelha
A túlipa veio de Amesterdão
Jan Baptist van Fornenburgh (1585-1650, s/título
À sua passagem a noite é vermelha,
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia.
Ninguém sabe onde vai nem donde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.
Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Poesia (Casa Fernando Pessoa, Banco de Poesia)
quinta-feira, 1 de maio de 2014
Vinheta: Maio e as tradições com flores
Maio, Maio, carrapato... um tostãozinho para o prato!
Existem no país outras tradições, como esta das giestas que pode ser lida aqui: as «Maias» e os «Maios».
Pelos vistos hoje deveria de comer castanhas piladas!!!
Já uma vez tinha tratado destas festas aqui no Prosimetron. Encontrei, na net, uma variante deste dito, numa celebração idêntica, feita em Martinchel e que pode ser lida aqui! Será umas das tradições que ficaram dos Templários, como a dos bolinhos no 1.º de Novembro?
Existem no país outras tradições, como esta das giestas que pode ser lida aqui: as «Maias» e os «Maios».
Pelos vistos hoje deveria de comer castanhas piladas!!!
Já uma vez tinha tratado destas festas aqui no Prosimetron. Encontrei, na net, uma variante deste dito, numa celebração idêntica, feita em Martinchel e que pode ser lida aqui! Será umas das tradições que ficaram dos Templários, como a dos bolinhos no 1.º de Novembro?
Encontrei esta imagem na net, da família Pacheco,
que publico tirando a cara (julgo que da Rita) e agradecendo.
Ainda os 40 anos do 25 de Abril
Só há dias vi que a Assembleia da República tinha editado, este ano, uma agenda e um calendário, dedicados ao 25 de Abril, com fotos de Miranda Castela.
quarta-feira, 30 de abril de 2014
Citações
(...) O fim da Guerra Fria provocou uma inquietação existencial que o compromisso de Maastricht procurou resolver, criando o euro, como contrapeso à reunificação alemã, e abrindo as fronteiras da União para garantir a estabilidade a Leste. Contudo, volvidos vinte anos, nem a crise do euro está resolvida nem as relações com a Rússia estão definidas. Se na crise da Ucrânia a Rússia pode funcionar como um " integrador externo", como aconteceu no passado, com a URSS, o euro, em sentido contrário, pode actuar como o " desintegrador interno ". É bom ter consciência do sarilho em que estamos metidos.
- Luís Amado, na VISÃO desta semana.
Números
100
A habitual lista da centena de pessoas mais influentes do mundo da revista Time. É certo que é uma lista um bocado " americanizada ", mas não deixa de ter o seu interesse. Além dos influentes habituais ( Obama, Putin, Frau Merkel, o Presidente da China etc ), também as " revelações " como o Papa Francisco ou o Querido Líder da Coreia do Norte. E há um português na lista.
Novidades
- Foi apresentado ontem na FNAC Chiado, e transcrevo a nota do editor : " (...) os bastidores desta guerra de poder e revela-nos como alguns dos banqueiros, que marcaram a última década, aos comandos do sistema bancário nacional, estão agora acusados pela justiça. Alguns caíram em desgraça, outros lutam pela sobrevivência. "
- Mais uma obra de Irene Pimentel, com o rigor a que nos habituou. Tem apresentação hoje, na Fnac do Colombo, às 19h.
- Mais uma obra de Irene Pimentel, com o rigor a que nos habituou. Tem apresentação hoje, na Fnac do Colombo, às 19h.
No Dia Mundial da Dança
Bill Cooper - Naomi Solomon
Stephen Wilkes - Bailarina
Bill Cooper - Isaac Mullins
«O bailarino sonha em abolir a lei da gravidade.»
Carlos Drummond de Andrade
Frases ( da semana que passou )
Antes havia censura, hoje há liberdade a mais.
- Simone de Oliveira
Interessante esta frase de Simone, concordemos ou não com ela.
terça-feira, 29 de abril de 2014
25 de Abril e Adriano
Privei com Adriano Correia de Oliveira durante dez anos, até pouco antes da sua morte prematura, aos quarenta. Uma voz de privilégio, um talento na transformação da poesia portuguesa em canto, um amigo de enorme generosidade e dedicação, um empenhado militante de intervenção. A sua canção “O Senhor Morgado” sobre poema do Conde de Monsaraz, música de José Niza e orquestração de Rui Ressureição, dois amigos que também já nos deixaram, adapta-se extraordinariamente a este 25 de Abril, onde o País mais que nunca se dividiu. O poema de Monsaraz, apesar de retractar o Portugal rural e caciqueiro do século XIX, cantado de forma extraordinariamente irónica, ajusta-se aos tempos de hoje:
O Senhor Morgado vai no seu murzelo / Todo empertigado / É um gosto vê-lo / Próspero, anafado / Veste alentejana / Calça de riscado / Homem duma cana / Vai como se ufana / De ir tão bem montado / E ela na janela / Seja Deus louvado
O Senhor Morgado / Vai nas próprias pernas / Todo barbeado / Tem palavras ternas / Para cada lado / Quando passa sente / Que é temido e amado / Fala a toda a gente / Toca um insolente / Sou um seu criado / Eleições à porta / Seja Deus louvado
O Senhor Morgado / Vai na sege rica / Todo repimpado / Ai que bem lhe fica / O chapéu armado / A comenda ao peito / O espadim ao lado / Que homem tão perfeito / Deputado eleito / Muito bem votado
E ela na janela / Eleições à porta / Vai para o Te-Deum / Seja Deus louvado
Lembrar Adriano e tantos que já partiram é a nossa lembrança dos valores de Abril.
António Correia de Campos
In: Público, Lisboa, 28 abr. 2014, p. 44
Prazeres
O prazer da biblioteca
(seria para mim o título da pintura)
(seria para mim o título da pintura)
Auguste Toulmouche (1829-1890), Na Biblioteca, 1872
A Biblioteca
Chegada a noite, volto a casa e entro no meu escritório; e, na porta, dispo a roupa quotidiana, cheia de lama e de lodo, e visto trajes reais e solenes; e, vestido assim decentemente, entro nas antigas cortes dos homens antigos, onde, recebido amavelmente por eles, me alimento da comida que é só minha, e para a qual nasci; onde eu não me envergonho de falar com eles e de perguntar-lhes as razões das suas acções. E eles com a sua bondade respondem-me; e, durante quatro horas, não sinto tédio nenhum, esqueço-me de toda a ansiedade, não temo a pobreza, nem a morte me assusta: transfiro para eles todo o meu ser.
Nicolau Maquiavel, in "Carta a Francesco Vettori" (Citador)
Querem experimentar?
Não sei se experimentarei; o método tradicional parece-me mais fácil.
Recebido por email.
segunda-feira, 28 de abril de 2014
A nossa vinheta
Pormenor da alegoria à outorga da Carta Constitucional de 1826
D. Pedro, Imperador do Brasil, Imperatriz D. Amélia e D. Maria II, Rainha de Portugal
A outorga da Carta Constitucional de 29 de Abril de 1926, por D. Pedro, Imperador do Brasil, depois da morte de seu pai, D. João VI, rei de de Portugal, em 10 de Março desse mesmo ano, em nome de sua filha D. Maria da Glória, deu início ao período constitucional mais duradouro da História de Portugal, apesar de ter estado suspensa de 1828 a 1834 e de 1838 a 1842, ano a partir da qual vigorou até 1910. Com a outorga da Carta de 1826 consolidaram-se os caminhos da Liberdade, que a efémera Constituição de 1822 haviam iniciado.
Biografias e afins
França celebra o bicentenário do nascimento de Viollet-le-Duc, arquitecto que restaurou várias glórias nacionais. É o tempo da redescoberta da Idade Média como lembra esta monografia de Françoise Bercé, e o arquitecto tem apenas 30 anos quando lhe é confiado, após ter ganho o concurso promovido pela Comission des Monuments Nationaux, o restauro desse ícone que é Notre-Dame de Paris. Mas não é este o seu primeiro trabalho de vulto : quatro anos antes, em 1840, a mesma comissão já lhe tinha confiado o restauro da Basílica Sainte Marie-Madeleine de Vézelay, cuja nave milenar ameaçava ruir.
O restauro de Notre-Dame vai durar 20 anos, não sem algumas polémicas, e são imensas as descobertas feitas pelo grande arquitecto ao longo dos anos que mostram comprovadamente que a catedral tal como chegou ao séc.XIX é fruto de intervenções nos sécs.XIII e XIV e até mais tardiamente, pelo que todo o " purismo " à volta do restauro tem muito que se lhe diga...
São muitas as intervenções notáveis de Viollet-le-Duc por toda a França, mas não quero deixar de salientar o trabalho feito no castelo de Pierrefonds por encomenda de Napoleão III : o que hoje visitamos e admiramos é obra dele, uma vez que o velho castelo estava como se vê na foto desde o séc.XVII .
Um pormenor interessante é a " assinatura " do arquitecto : fez-se representar nos muitos restauros que fez, emprestando os seus traços a figuras de pedra. É ele que vemos como São Tomé, esculpido por Geoffroi-Dechaume , em Notre-Dame ao pé da flecha olhando para o céu, e aparece também como peregrino de Compostela no castelo de Pierrefonds, ou ainda aos pés de um santo na catedral de Amiens.
Restaurer un édifice, ce n'est pas l' entretenir, le réparer ou le refaire, c'est le rétablir dans un état complet qui peut n'avoir jamais existé à un moment donné.
- Viollet-le-Duc
Pensamento ( s )
Um luta um dia, outro luta outro dia. Os imprescindíveis são os que lutam todos os dias até ao fim da sua vida.
- Bertolt Brecht (de quem não sou admirador incondicional, mas é difícil não concordar com esta máxima dele.)
Números
Pode não acontecer muitas vezes, mas quando nos Estados Unidos o bom gosto se alia ao muito dinheiro acontecem coisas como esta Mellon House, no Upper East Side, Manhattan, NY. Construída em 1965 pelo banqueiro e multimilionário Paul Mellon e pensada como um palacete parisiense no coração de Nova Iorque. 1000 metros quadrados divididos por 14 divisões, todas estas dando para o jardim à francesa. Foi vendida pela família em 2006 por 22,5 milhões de dólares, e está novamente à venda mas agora por 46 milhões de dólares ( Sotheby's International Realty ).
domingo, 27 de abril de 2014
Homenagem a Vasco Graça Moura
A minha homenagem a Vasco Graça Moura (1942-2014) através da sua tradução da Divina Comédia
Purgatório
CANTO I
Buscando águas melhores iça as velas
a navicela deste meu engenho
que deixa atrás de si cruéis procelas;
e do segundo reino cantar venho
em que a alma humana purga e se habilite
por digna de ir ao céu no seu empenho.
A morta poesia ressuscite,
ó santas Musas, sendo eu vosso, e então,
já surgindo Calíope, palpite
aquele som seguindo-me a canção,
que fez as Pegas míseras sentir o
golpe a desesperá-las do perdão.
(...)
Dante Alighieri, A Divina Comédia. Lisboa: Bertrand, 2006, p. 171
(trad. Vasco Graça Moura e ilustr. de Júlio Pomar)
Purgatório
CANTO I
Buscando águas melhores iça as velas
a navicela deste meu engenho
que deixa atrás de si cruéis procelas;
e do segundo reino cantar venho
em que a alma humana purga e se habilite
por digna de ir ao céu no seu empenho.
A morta poesia ressuscite,
ó santas Musas, sendo eu vosso, e então,
já surgindo Calíope, palpite
aquele som seguindo-me a canção,
que fez as Pegas míseras sentir o
golpe a desesperá-las do perdão.
(...)
Dante Alighieri, A Divina Comédia. Lisboa: Bertrand, 2006, p. 171
(trad. Vasco Graça Moura e ilustr. de Júlio Pomar)
Painéis de azulejo
Estes painéis de azulejo (ca 1670), estão hoje no Museu de Lamego e estavam numa sala do Palácio Valmor, no Campo Mártires da Pátria.